Título: Abbas convida Hamas a integrar governo palestino
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Internacional, p. A17

Grupo diz que estuda a proposta; governo israelense protesta e enfatiza que jamais negociará com uma 'organização terrorista'

O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, convidou ontem o grupo radical islâmico Hamas a integrar seu governo e ajudar na supervisão da transferência da Faixa de Gaza para o controle palestino, em meados de agosto. Líderes do grupo disseram, sob anonimato, que estão estudando a proposta. Ontem também, Israel revogou a ordem que declarava a Faixa de Gaza zona militar fechada para os israelenses não residentes na região. Os militares disseram, porém, que vão restringir o acesso a militantes da extrema direita, que nos últimos dias provocaram protestos violentos no território e em Israel contra a retirada das colônias judaicas da Faixa de Gaza.

Pesquisa divulgada pelo diário local Yedioth Ahronoth mostrou que, após os distúrbios, aumentou de 53% para 62% o apoio da população israelense ao plano do primeiro-ministro Ariel Sharon para Gaza.

HAMAS

O Hamas é o principal rival da Fatah, a facção de Abbas, que governa a AP. Nas últimas eleições municipais, o grupo conquistou o poder em várias cidades da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. O fato preocupa o governo israelense porque o Hamas tem oficialmente como meta a destruição de Israel. Foi responsável pela maioria dos atentados suicidas na última intifada (levante contra a ocupação israelense).

"A presença do Hamas num governo liderado por Abbas é inaceitável e não vai ajudar os dois lados a alcançar um acordo de paz. O Hamas é uma organização terrorista assassina, responsável por incontáveis atos de violência sem sentido contra civis inocentes. Não é parceiro para nós em nenhum tipo de processo político", reagiu o porta-voz da chancelaria de Israel, Marg Reguev.

Israel e os EUA exigem que Abbas desarme os militantes palestinos, incluindo os do Hamas. Mas o líder palestino quer evitar um confronto com os extremistas. Seu objetivo é cooptá-los para as forças de segurança e outros órgãos do governo. Dois meses atrás Abbas fez o convite pela primeira vez ao Hamas, com a condição de que aceitasse o adiamento das eleições parlamentares previstas para este mês. O grupo recusou. Mesmo assim, Abbas adiou as eleições.