Título: Após confronto a bala, índios de MS fazem dois reféns na Funai
Autor: João Naves de Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A14

Caiovás tentaram invadir fazenda e foram recebidos por seguranças armados; depois, fecharam rodovia

Índios fizeram reféns, ontem, o chefe do núcleo da Funai (Fundação Nacional do Índio), Israel Bernardes, e o antropólogo da fundação, Ludi Simiole, além de interditar a Rodovia MS-116, com prazo indefinido para liberação. As ações começaram antes da 7h, depois da tentativa de um grupo de guarani-caiovás invadir durante a noite e madrugada a Fazenda Cristal, em Dourados, Mato Grosso do Sul, a 240 quilômetros de Campo Grande. Quase 200 caiovás, com armas rudimentares, foram recebidos a bala pelos seguranças do fazendeiro. Não há notícias de índios feridos, apenas o fazendeiro Eduardo Rodrigues de Carvalho, dono de uma fazenda próximo ao local do confronto, afirmou que foi agredido pelos índios. Ele mostrou vários hematomas pelo corpo, afirmando que só não foi "massacrado" porque recebeu socorro dos colegas. Os "colegas" a que se referiu são os proprietários de 14 áreas, entre elas a Fazenda Cristal, reivindicadas pelos caiovás.

Até a noite, não havia nenhum acordo para a normalização do conflito. A exemplo dos índios, os fazendeiros também foram para a BR-116 que liga Dourados à cidade de Itaporã. De um lado os caiovás, pintados para a guerra, e de outro quase cem produtores rurais. No meio das partes antagônicas, soldados da Polícia Militar.

Para tentar resolver o impasse, foram chamados os funcionários da Funai Bernardes e Simiole. Na falta de um acordo, os dois acabaram reféns dos índios. O procurador-geral da República em Dourados, Charles Pessoa, tentou formar uma comissão de negociação composta por índios e fazendeiros. Não conseguiu e deixou para hoje o do trabalho de pacificação.

TENSÃO

No extremo sul do Estado outro foco de tensão. Cerca de 400 guarani-caiovás se movimentam dentro da Fazenda Sombrerito, invadida por eles domingo último, quando receberam tiros de escopeta. O índio Dorival Benites, 26 anos, morreu com um tiro na cabeça e outros três foram feridos.

Revoltados, os líderes dos caiovás que habitam a região de Sete Quedas, na divisa com o Paraguai, querem vingar a morte de Benites.

Diante dessa quadro, a Polícia Federal desencadeou ontem a Operação Presença, empregando 50 agentes, além de policiais militares, civis e da Polícia Rodoviária. A ordem é desarmar índios e fazendeiros. Para isso, foram montadas várias barreiras entre os municípios de Sete Quedas e Japorã.

Todos os condutores de veículos são vistoriados, inclusive ciclistas e motociclistas. A operação vai durar dez dias.