Título: Planalto manobra para controlar investigações
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A12

Oposição protesta, mas governo conta com ajuda de Severino Cavalcanti para instalar CPI do mensalão

Apesar dos protestos da oposição, o Planalto vai insistir nas manobras para tentar controlar as investigações sobre o mensalão. A idéia ainda é conseguir - com o apoio do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti - que seja criada uma comissão parlamentar de inquérito formada exclusivamente por deputados. Na avaliação do governo, é mais fácil conduzir as apurações se elas correrem apenas na Câmara, e não numa CPI de deputados e senadores, como querem os oposicionistas. Severino prometeu colocar em votação segunda-feira o requerimento, apesar de outros projetos estarem trancando a pauta. A oposição se prepara para resistir. "Agora há de novo uma medida provisória na frente do requerimento, trancando a pauta. Não me surpreenderia se o Planalto viesse com mais uma edição extra do Diário Oficial retirando essa MP", disse o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

Até o meio da semana, uma MP e três projetos de lei enviados pelo governo com pedido de urgência trancavam a pauta da Câmara, impedindo a votação do requerimento. O Planalto então entrou em ação, numa manobra que caracterizou a interferência direta do presidente Lula no processo. Num primeiro movimento, retirou o pedido de urgência dos projetos. Depois, numa edição extra do Diário Oficial, o Planalto reeditou com algumas modificações a MP que cria o TimeMania - loteria destinada a financiar clubes de futebol. Na prática, a iniciativa retirou a MP da pauta de votações, deixando aberto o caminho para apreciação do requerimento da CPI.

De pronto, Severino colocou o requerimento em votação. "É a aliança lulista-severinista. Eles são muito parecidos. Severino fez isso porque é um dos principais interessados em que a investigação fique na Câmara", acusou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), numa referência ao fato de que o PP, partido do presidente da Câmara, está entre os acusados de se beneficiar do mensalão.

As manobras do governo só deram errado até agora porque a oposição conseguiu resistir, adiando a votação. Os adversários de Lula chegaram a divulgar nota de repúdio contra a interferência do Planalto. "Vamos continuar obstruindo. O que o governo está tentando fazer é controlar a investigação enquanto finge que está investigando", disse Paes.