Título: Empréstimo de R$ 2,4 mi prova elo de Valério com PT
Autor: Vera Rosa e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A4

No 48.º dia no governo Lula, em 17 de fevereiro de 2003, a direção do PT pediu ao Banco de Minas Gerais, o BMG, um empréstimo de R$ 2,4 milhões. O banco exigia, como garantia, a assinatura de três avalistas. Os nomes escolhidos foram os do presidente do partido, José Genoino, do tesoureiro Delúbio Soares e um terceiro mais que intrigante: o do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. Um ano e cinco meses mais tarde, em julho de 2004, vencia uma das parcelas, no valor de R$ 349.927,53, e o PT não tinha recursos em caixa para quitá-la. O mesmo Marcos Valério encarregou-se de pagar. Ou seja, um publicitário que - soube-se depois - ganhava muito dinheiro com encomendas do governo gastava parte desse dinheiro pagando contas do partido que estava no governo. Esse foi o petardo que, divulgado no sábado pela revista Veja, explodiu no colo dos dirigentes petistas e os expôs a uma guerra interna (que logo se tornou pública) jamais vista em 25 anos de vida do partido.

Os estilhaços da bomba foram deixando, na tarde e na noite do sábado, uma sucessão de reações desastradas. A primeira: Genoino dizer que não se lembrava de ter assinado um documento tão importante. A segunda: ele negar participação no episódio. Mais tarde, ele pôs a culpa pelo erro no tesoureiro Delúbio. Por fim, este divulgou uma nota em que confessava o equívoco e confirmava que o publicitário Marcos Valério havia pago uma parcela porque o PT não tinha recursos para isso.

Os documentos mostrados pela revista, que diz tê-los obtido no Banco Central, revelam que o dinheiro pedido pelo PT deveria ser pago ao BMG em 150 dias. Somados os juros, a dívida chegava a R$ 3.120.000,00. Os detalhes da história indicam que Valério entrou no cotidiano do governo Lula já em seu início. Foi ele quem conversou com a direção do BMG quando o empréstimo começou a demorar. Depois, levou diretores do banco até o ministro da Casa Civil, José Dirceu, no Palácio do Planalto. Antes disso, a direção do banco tinha se encontrado com Delúbio e Valério em um hotel de Brasília, o Blue Tree Tower. Interrogado pela Polícia Federal, Valério negou esses contatos.

O que os novos documentos deixam claro é que as relações de Marcos Valério com a cúpula petista são antigas e de confiança e que ele mentiu à PF. Caíram por terra, também, as alegações de que só visitava o Palácio do Planalto "para tomar um cafezinho" com Delúbio. Na verdade, ele fez 31 visitas ao amigo entre maio e dezembro de 2003, média de 1 por semana. Só este ano, ali apareceu outras 13 vezes.

A denúncia resume as sucessivas operações financeiras entre Valério e dirigentes petistas. Ele tem, por exemplo, um contrato com os Correios, de R$ 15 milhões, outro com o Ministério dos Esportes, de R$ 650 mil. Na Câmara dos Deputados, o petista João Paulo Cunha (SP) fez outro, de R$ 10,7 milhões. Tudo somado, em um ano Valério recebeu em diferentes contratos um total de R$ 144 milhões. No longo prazo, esse valor chega aos R$ 400 milhões.