Título: Lula acerta saída de Delúbio e pede a Genuíno que fique no cargo
Autor: Vera Rosa e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A4

Está praticamente acertado o afastamento do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira, da cúpula petista. Para impedir que as ligações perigosas do PT atinjam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e juntar os cacos na mais grave crise política do governo e do partido, dirigentes do Campo Majoritário pediram aos dois que se licenciem de seus cargos na reunião da executiva nacional, adiada de ontem para amanhã. O presidente do PT, José Genoino, foi convencido por Lula a ficar. "Agüente firme", disse Lula a Genoino, que adiou a reunião da executiva para discutir o futuro dele e dos companheiros. O presidente do PT vai convocar uma reunião do diretório nacional para sábado e deverá acatar sugestão da esquerda petista, que propõe criar uma comissão interna para averiguar as finanças do PT e as denúncias.

Lula alega que somente Genoino pode evitar que o PT desande nessa hora. Mas Genoino está muito abalado e por mais de uma vez avaliou a conveniência de renunciar, apesar da negativa oficial. O mais novo terremoto sobre a cúpula do governo e do PT foi provocado com a revelação, pela revista Veja, de que o publicitário Marcos Valério - apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como distribuidor do mensalão - avalizou empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT, em 2003. Pior: como o PT não pagou uma parcela, o próprio Valério quitou prestação de R$ 349,9 mil.

A descoberta caiu como uma bomba. Dividiu ainda mais o partido e causou outro desgaste monumental ao Planalto. Foi então que, em reuniões de emergência realizadas ontem e no sábado à tarde, integrantes do Campo Majoritário chegaram à conclusão de que não dá mais para segurar Delúbio e Silvio, como ocorreu há 15 dias.

Em conversas reservadas, petistas confirmaram ao Estado que os dois já concordaram com a saída. Procurados pela reportagem, eles não responderam às ligações. Na última reunião do diretório nacional, dia 18, Delúbio foi categórico: disse que não tinha nada a temer e que não se afastaria do cargo "nem mesmo se Lula pedisse". As dívidas do PT nacional somam R$ 20 milhões. A maior parte foi contraída depois das campanhas de 2002 e 2004.

O comentário na cúpula do PT é de que Delúbio traiu a confiança de Genoino. Silvio não foi mencionado na reportagem de Veja, mas teve o nome citado várias vezes por Jefferson, que o acusou de tráfico de influência para a distribuição de cargos no governo. Além disso, também aparece na agenda de Marcos Valério. As agências do publicitário - DNA e SMPB - têm contratos com o governo Lula no valor de R$ 144,4 milhões.

O estado emocional de Genoino preocupa Lula e seus amigos. "Eu não tenho nada a ver com isso", repetiu o presidente do PT, no último fim de semana. Primeiro, Genoino declarou que Marcos Valério "nunca" tinha sido avalista do PT. Diante das provas, disse que tinha recebido "informação equivocada" da Secretaria de Finanças, comandada por Delúbio.

Embora a maioria do partido confie em Genoino, muitos acham que ele deve se afastar do cargo, como o senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado Chico Alencar (RJ). Os que defendem a permanência alegam que sair seria confessar uma culpa que ele não tem.

"É evidente que a pressão é grande, mas Genoino não vai renunciar", afirmou o secretário de Relações Internacionais do PT, Paulo Ferreira. "A situação é insustentável. Delúbio e Silvio devem pedir licença, mas isso não basta. Na reunião do diretório nacional, deveremos discutir toda essa crise, que bate no PT e no governo. Não há como separar os dois", completou Romênio Pereira, um dos vice-presidentes.

O senador Paulo Paim (PT-RS) admitiu estar "perplexo". "Seria hipocrisia dizer que não estamos preocupados."