Título: Esquerda pode assumir direção
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A5

A cúpula do PT tentará adiar ou "esfriar" o processo interno de eleição direta das novas direções municipais, estaduais e nacional para evitar que a crise que atinge o partido seja usada como munição pelas correntes minoritárias. Pela primeira vez desde a fundação do PT, em 1980, a esquerda petista vê a possibilidade de arrancar dos moderados a presidência da sigla, aproveitando o descontentamento das bases com os líderes do chamado Campo Majoritário, agrupamento de correntes que domina o partido. Na eleição, marcada para setembro, dez chapas devem disputar o voto de 840 mil filiados do PT para o diretório nacional. São sete candidatos a presidente, inclusive José Genoino, que concorre à reeleição. Se o grupo majoritário não obtiver 50% mais um dos votos, poderá enfrentar no segundo turno para a escolha do presidente uma coalizão formada pela maioria das correntes minoritárias.

"A chance de a esquerda ganhar a eleição interna do PT é muito grande porque os companheiros do Campo Majoritário não se mostram à altura do desafio", diz o terceiro vice-presidente do partido e candidato a presidente pela Articulação de Esquerda, Valter Pomar. Pomar opina que a tese da renúncia coletiva da executiva ou de substituição do tesoureiro Delúbio Soares e do secretário-geral Sílvio Pereira não vai resolver o problema do partido. "Se não mudarmos a linha política, nem Jesus Cristo na presidência do partido resolve", disse.

Defensor da manutenção da data da eleição direta, ele acredita que o partido deve ser dirigido por uma executiva reestruturada até setembro.

Posição semelhante é compartilhada por outro candidato à presidência do PT, o deputado gaúcho Raul Pont (PT), da Democracia Socialista. Segundo ele, a "indignação dentro do partido é grande" com a sucessão de revelações que começam a manchar a história do PT. "Ficamos 16 anos na prefeitura de Porto Alegre e nunca fomos alvo de denúncias como essas", diz o ex-prefeito.

Segundo a esquerda, a revelação de que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT deve levar a Executiva a promover uma revisão nas finanças do partido e a dividir o poder de maneira mais democrática.