Título: Não vou renunciar, diz Genoino
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A5

O presidente do PT, José Genoino, afirmou na tarde de ontem que não vai renunciar ao posto, apesar da crise alimentada pela confirmação de que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza avalizou uma operação de empréstimo de R$ 2,4 milhões para a legenda e ainda pagou uma parcela do financiamento. "Não existe essa hipótese de renúncia. Descarta isso", disse Genoino. O empréstimo foi avalizado também por Genoino e pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Uma das preocupações de Genoino foi a de tentar explicar o adiamento, de ontem para amanhã, da reunião na qual a Executiva Nacional do partido discutiria a crise política. De acordo com o presidente petista, não haveria tempo para que dirigentes partidários de todos os cantos do País viajassem às pressas para São Paulo em pleno domingo.

Além disso, Genoino alegou que ele próprio precisaria de tranqüilidade para se preparar para o programa de entrevista Roda Viva, da TV Cultura, que será transmitido ao vivo na noite de hoje. "Na reunião da Executiva nós vamos tratar da situação geral do partido e dos últimos acontecimentos", afirmou o presidente do PT.

A "esquerda" do partido e alguns petistas moderados, como os senadores Paulo Paim (RS) e Cristóvam Buarque (DF), pressionam a direção do PT a renunciar. Alegam que é a única forma de afastar do partido a suspeita de envolvimento no pagamento do mensalão a parlamentares da base aliada para que votassem nos projetos do governo.

Paim criticou a tática usada pela cúpula petista, que atribui a crise a uma "conspiração das elites". "Não tem essa história de golpismo", observou. "Não dá para dar uma de avestruz e esperar a crise acabar."

SÃO JOÃO

Apesar de Genoino descartar a hipótese de renúncia, sua situação tem preocupado os petistas mais graduados, incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na festa de São João realizada no sábado na Granja do Torto, Lula disse aos ministros presentes: "Estou com dó do Genoino. Ele não tem nada a ver com essa gente." A tal gente a que Lula se referia eram Delúbio e o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.

Genoino assumiu a presidência do PT em dezembro, antes da posse do presidente Lula. Ele substituiu o deputado José Dirceu (PT-SP), escolhido por Lula para ser o chefe da Casa Civil. Foi uma espécie de cargo de consolação para Genoino, que disputou o governo de São Paulo e perdeu para Geraldo Alckmin, do PSDB.