Título: Presidente tenta concluir reforma em 24 horas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer acelerar os acertos políticos para concluir a reforma ministerial nas próximas 24 horas, em tempo de anunciar sua nova equipe antes do embarque para a Escócia na quarta-feira. Mas não está fácil fechar o xadrez da reforma que inclui até o ex-ministro do governo militar e deputado Delfim Netto (PP-SP). Delfim disse ao presidente que o único ministério compatível com seu perfil no atual governo é o das Comunicações, já que a área econômica está definida com Antonio Palocci na Fazenda e Paulo Bernardo no Planejamento.

A opção do deputado pepista para as Comunicações muda os planos do PMDB. Na última conversa da cúpula governista do PMDB com o presidente, na sexta-feira, foi sugerido que o senador Hélio Costa (PMDB-MG) substituísse o atual ministro Eunício Oliveira (PMDB-CE) nas Comunicações, atendendo a uma escolha da bancada de senadores.

Diante da novidade, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) reúnem-se nesta manhã com Hélio Costa para negociar uma saída, já que ele havia recusado a Previdência Social.

Na avaliação de um interlocutor do presidente, a saída pode ser o deslocamento de Hélio Costa para as Cidades, que sempre foi um sonho de consumo do PMDB na Esplanada dos Ministérios. Mas para isto, Lula terá que demitir o petista Olívio Dutra, que já falou ao chefe de sua disposição de permanecer à frente do ministério até o último dia do governo, abrindo mão de se candidatar às eleições de 2006.

ESCOLHA

O convite a Delfim não foi precedido de uma consulta prévia aos partidos. Um colaborador presidencial diz que Lula está montando o novo ministério com a preocupação de ampliar os votos no Congresso e o apoio ao governo na sociedade, mas a partir de uma escolha pessoal sua.

No caso de Delfim, um pepista ilustre destaca que há um movimento do empresariado em favor do ingresso do ex-ministro no primeiro escalão do governo, para que ele possa fazer a interlocução do setor produtivo com o ministro Palocci.

Tanto no caso do PP como no caso dos ministros do PMDB, o presidente tem se mostrado disposto a ignorar as pressões e os protestos de aliados e petistas inconformados com algumas escolhas. Além de Delfim, setores do PT também não aceitam a indicação do deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG) para substituir o petista Humberto Costa na Saúde.

A despeito disso, insiste um dirigente petista, a participação de Saraiva está decidida porque ele agrega os votos de Minas Gerais, garantindo maioria ao governo na bancada da Câmara e em uma eventual convenção partidária, onde os parlamentares mineiros somam 48 votos.

Como o ministro do Trabalho, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), já confirmou que deixará o ministério para voltar à Câmara porque vai disputar as eleições de 2006, ficou mais fácil acomodar o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, num outro ministério. A idéia é deslocá-lo para a pasta do Trabalho, deixando que o ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, acumule a articulação política às suas funções atuais.

PEDIDO

Em todas as conversas que teve, Lula tem insistido que os candidatos devem deixar seus postos para não forçá-lo a fazer nova troca antes de abril, quando todos os que irão disputar as eleições são obrigados, por lei, a sair do governo.

No entanto, no encontro que teve com o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB-PE), na sexta-feira, Lula fez ponderações para que ele permanecesse no cargo. "Você é novo, não tem nem 40 anos. Eu fiquei anos sem mandato e estou aqui", argumentou Lula.

Campos pediu-lhe 48 horas para dar a resposta, e tende a ficar, mesmo com seus amigos advertindo que a comparação feita pelo presidente não serve de argumento a ninguém.

Também falta bater o martelo no que se refere ao destino do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz (PC do B-DF), que se mostra disposto a voltar à Câmara.