Título: Jefferson ameaça com novas revelações
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Nacional, p. A10

Principal agente da crise que atinge o governo Lula, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) promete novas revelações. Mas só se dispõe a fazê-las na acareação com o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil. "Agora, estou guardando (a munição) é para o meu encontro com o José Dirceu na acareação, se Deus quiser", disse. "Eu estou torcendo do fundo do meu coração."

O presidente licenciado do PTB diz esperar que o encontro com Dirceu se transforme "em um grande momento nacional". E avisou: "O Brasil vai escutar o que é o José Dirceu. Aí, vai poder medir bem, escutar bem quem é o José Dirceu", afirmou ontem em conversa com o Estado, em São Paulo, onde esteve para a gravação de um programa de TV. "A verdade é avassaladora", observou.

Jefferson disse desconhecer que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado por ele como o operador do mensalão, tenha avalizado empréstimo de R$ 2,4 milhões feito pelo banco mineiro BMG ao Partido dos Trabalhadores. Soube pela imprensa. "O que sei é que, quando o PT tentou me desacreditar, e lutou 9 horas para impedir a quebra de sigilo do Marcos Valério (na semana passada) é porque o Marcos Valério é o operador do PT junto com o Delúbio (Soares, tesoureiro do partido)." E insistiu, a exemplo do que fez em depoimento na CPI dos Correios, que o publicitário "é uma espécie mesmo" de PC Farias, o tesoureiro de Fernando Collor de Mello.

"É aliás um homem muito afim com o mercado financeiro. Um cara que sabe como é que faz, onde buscar o dinheiro", disse. E emendou: "O Delúbio não tem (o trânsito de Valério). É um professor do interior de Goiás." Jefferson diz não ter dúvidas de que Marcos Valério era o "cérebro" do esquema. "O Delúbio se sentiu seguro com o Marcos Valério para poder operar."

Apesar de afirmar ter sabido sobre o empréstimo ao PT no final de semana, o presidente licenciado do PTB disse que não ficou surpreso.

"O elo é importante. Mas para mim mais forte é a informação de que depois de avalizado e sacado o empréstimo, o Marcos Valério levou os diretores do BMG à Casa Civil, para se encontrar com o José Dirceu", comentou, reiterando que Dirceu era, de fato, o presidente do PT e José Genoino, seria, na prática, um vice.

FOME PANTAGRUÉLICA

Certo de que "a imprensa vai desvendar tudo" - para ele a CPI está sendo pautada pela mídia -, Jefferson ressalta que o esquema apontado por ele "é poderoso, concentrado".

"Tudo era deles (dos petistas). Essa turma de operador do PT é uma turma de rato magro. Come pão de massa fina; não deixa farelo nem para passarinho. É uma fome pantagruélica, come boi com chifre e tudo. Nunca comeram mel, se lambuzaram."

Para Jefferson, que disse ter encontrado Marcos Valério em três ocasiões - duas delas quando o publicitário teria levado ao PTB R$ 4 milhões (primeiro R$ 2,2 milhões e depois R$ 1,8 milhão) dos R$ 20 milhões (fruto de suposto acordo entre o PTB e o PT nas eleições de 2004) -, há duas frentes no esquema que ainda precisam ser desvendadas. "Tem uma coisa que chama atenção: dos R$ 4 milhões, 70% (do dinheiro) era do Banco do Brasil e 30% do Banco Rural. Os controles do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) devem ser iguais", comentou, citando que, até o momento, só foram reveladas as transações financeiras do Banco Rural.

O deputado petebista dá outra pista. Diz que até agora só foi quebrado o sigilo de um CNPJ da SMPB, uma das agências de Marcos Valério. "Só quebraram o CNPJ daquele que é o principal. Mas não daquele que operou um tempão. Esse eles não quebraram. Ali é que está o volume", apontou ele.

Jefferson, ainda com o rosto machucado - fruto da queda de um armário enquanto procurava uma caixa de CDs de Lupcínio Rodrigues -, voltou a afirmar que a decisão de falar o que sabe foi depois de ter percebido a estratégia do governo de "colocar toda a corrupção, que não é do PTB, no colo do PTB". "Eles iam nos deixar às feras." Para desespero do governo, a Fera Jefferson está à solta.