Título: Empresas já puxam o freio de mão
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

O segundo semestre começa com o freio de mão puxado para boa parte das empresas da indústria e do comércio, depois da freada no ritmo de atividade entre abril e maio. As expectativas frustradas em relação às metas de vendas para a primeira metade deste ano fizeram com que os fabricantes de resinas plásticas, embalagens, materiais de construção e alimentos redobrassem a cautela quanto à produção para os próximos meses. Nem mesmo a indústria de áudio e vídeo - uma das poucas que até agora superaram a expectativa, ao lado da automobilística - espera grandes picos de crescimento para o segundo semestre. Só o acréscimo causado pela sazonalidade, que é positiva no período.

Os juros estabilizados em 19,75% ao ano, o provável esgotamento da capacidade do consumidor de assumir novos financiamentos já apontada pela elevação dos índices de inadimplência, além da renda estagnada, esfriaram o ânimo dos empresários, isso sem falar nos projetos de investimento, que estão em banho-maria.

Para adequar a produção ao mercado mais apertado, eles reduziram as projeções de crescimento e programam ou até já deram férias coletivas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, 22 metalúrgicas, que empregam 9,5 mil trabalhadores, foram afetadas pela redução nas encomendas. Desse total, 2,5 mil funcionários estão em férias coletivas.

"Sentimos a freada e a deflação", diz o coordenador do Departamento Econômico da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro. O setor, que sofre diretamente o impacto da renda, elevou a produção em 5,7% entre janeiro e maio ante 2004. No entanto, as vendas reais aumentaram menos da metade (2,3%) no mesmo período.

O ritmo mais lento na indústria de produtos não-duráveis, como alimentos, teve reflexos no setor de embalagens. No primeiro semestre, as fábricas ampliaram a produção em 2,3%, ante expectativa de crescimento de 3% a 3,5%, diz o o presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Fabio Mestriner. Ele observa que a renda estagnada e o recuo da agroindústria afetaram o setor. Logo no início do ano, a expectativa era de crescimento de até 4,5%.

Na cadeia de produção, a indústria de resinas plásticas teve suas expectativas parcialmente frustradas no primeiro semestre por causa do desempenho mais modesto do setor de embalagens. O presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Sintéticas no Estado de São Paulo (Siresp), José Ricardo Roriz Coelho, diz que a projeção era vender 8% mais no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2004, mas o acréscimo foi de 6%. Segundo ele, apenas as indústrias de cosméticos, automobilística e eletrônica tiveram desempenho excepcional no semestre como compradores de resinas plásticas.