Título: Presidente da GM acredita em recorde da produção este ano
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

A indústria automobilística reclama dos juros altos e do câmbio desvalorizado, mas encerra o semestre com o melhor resultado dos últimos três anos para o período. As vendas de 800 mil veículos, 11,6% mais do que em igual período do ano passado, surpreenderam o presidente da General Motors do Brasil, Ray Young. "O mercado interno foi um desafio, mas os resultados são bons." O executivo acredita que o setor pode perder fôlego nos próximos três meses, mas volta a recuperar-se a partir de outubro, a tempo de possibilitar às montadoras recorde de produção anual, com 2,4 milhões de veículos. "Os juros vão começar a cair", aposta ele. Mesmo com o dólar desvalorizado, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mantém projeções de exportações próximas a US$ 9 bilhões este ano, as maiores da história. Junto com as montadoras, que destoam do cenário industrial de desaceleração, as fabricantes de autopeças contabilizam boa carteira de pedidos para a segunda metade do ano. As empresas esperam faturamento de US$ 18,6 bilhões, 12,7% acima de 2004, o que será o melhor dos últimos oito anos. A seguir, trechos da entrevista de Ray Young.

Por que os consumidores compraram mais carros?

Fiquei surpreso com a força da indústria automobilística. As vendas foram melhores do que minhas expectativas. Creio que algumas pessoas buscaram proteção contra a inflação, pois se previa aumento dos índices no segundo semestre. Além disso, as montadoras foram agressivas com promoções para estimular o mercado. Também ocorreram lançamentos de modelos bicombustíveis, que puxaram o mercado. Houve mais vendas de carros pequenos e mais baratos, do que de modelos médios e mais caros.

Como será o comportamento da economia nesse segundo semestre?

Estamos contentes com a decisão do Banco Central de parar de aumentar a taxa de juros e acreditamos que, daqui para a frente, a tendência é de redução. Creio que o terceiro trimestre será um pouco fraco, mas nos últimos três meses do ano o governo vai estimular a economia, de olho nas eleições. As vendas internas de veículos este ano devem chegar a 1,64 milhão de unidades, aumento de 5% em relação a 2004. O crescimento pode até ser maior se as taxas de juros caírem e se houver confiança na economia.

A taxa cambial prejudicou as exportações?

O primeiro semestre foi muito difícil para as exportações, tivemos prejuízos. A GM perdeu contratos de 11 mil carros que seriam enviados para o México e de 3 mil para os países andinos. Exportar com o dólar a R$ 2,36 é como se fosse um hobby, pois perdemos dinheiro. Nossa projeção era exportar US$ 1,6 bilhão este ano, mas agora achamos que vamos repetir 2004, com US$ 1,3 bilhão.

O senhor acha que o câmbio continuará desvalorizado?

Esperamos uma recuperação do câmbio para R$ 2,70, o que seria bom para o setor. Embora as exportações de veículos como um todo tenham crescido até agora 35%, todas as empresas perderam dinheiro.