Título: Investidor ficará atento à inflação
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os indicadores de inflação e de produção industrial que serão divulgados esta semana serão os principais focos de interesse do mercado financeiro. A semana começa com pouca movimentação hoje, por causa do feriado do Dia da Independência que paralisa o mercado de ações e de títulos nos Estados Unidos. A redução dos negócios pode abrir espaço para maior volatilidade no mercado. O estrategista-chefe do Banco BNP Paribas Brasil, Alexandre Lintz, diz que é grande a expectativa e o otimismo com os dados de inflação que serão determinantes para o Banco Central iniciar a temporada de redução da taxa básica de juros, de 19,75% ao ano, no momento. Ele prevê que, pelo cenário atual, o ciclo de cortes comece em outubro e o juro básico chegue ao fim do ano equilibrado em 18,25% ao ano. "Mas, dependendo do nível de desaceleração apontado pela inflação, os juros podem iniciar a queda antes e em ritmo mais rápido."

O indicador mais aguardado por investidores e mercado é a inflação de junho pelo IPCA, referência da política de metas do Banco Central, que será conhecido na sexta-feira. A estimativa de Lintz é que ele fique em 0,08%, com forte desaceleração dos preços livres. "É um indicador importante porque pode antecipar ou retardar o processo de redução dos juros."

Fora o IPCA, outros dados de inflação serão divulgados ao longo desta semana. Começa hoje, com a pesquisa Focus, que deve continuar apontando revisões para baixo nas estimativas de inflação do mercado; amanhã, será conhecida a inflação de junho pelo IPC-Fipe, que, segundo Lintz, pode apontar deflação (inflação negativa) de 0,15%; na quinta, o IGP-DI, também de junho, que, puxado pela persistente queda do dólar, pode embutir deflação de 0,48%.

Ao lado da inflação, outra variável que deve influenciar a decisão do BC sobre os juros são os dados da produção industrial de maio que serão divulgados pelo IBGE na quinta-feira. Lintz prevê que os números apontem crescimento de atividade, embora em ritmo mais lento, sem pressão inflacionária, reforçando a idéia de retomada de corte dos juros.

O executivo do BNP Paribas Brasil comenta que, além da trajetória da inflação, a redução da taxa básica de juros vai depender também da liquidez (abundância de recursos no sistema financeiro) internacional. Se ela for mantida, o dólar deverá persistir em queda e, com ele, a inflação e os juros domésticos, avalia. "O principal fator que pode afetar a liquidez internacional são os juros americanos." A elevação dos juros nos EUA tende a atrair os capitais para os títulos do Tesouro americano.

Nos EUA, os dados mais aguardados são os do mercado de trabalho de junho que serão divulgados na sexta-feira. "Como as taxas de curto prazo, que subiram para 3,25%, continuam muito baixas, dados de trabalho mais fortes podem pressionar o Fed (banco central) a puxar mais os juros."