Título: Petroquímicas investem na expansão
Autor: Nilson Brandão Junior e Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Com o caixa fortalecido pela boa fase dos preços internacionais, a petroquímica brasileira já começou a pôr em prática um vigoroso processo de expansão e se prepara para uma nova onda de consolidação e integração de ativos. A lógica é simples. As empresas precisam de escala de produção e musculatura financeira para vencer a disputa pelo crescente mercado interno e, ainda, participar do jogo internacional. Para ajudar, o setor se aproxima do limite de capacidade, o que facilita as decisões por novos investimentos. Elas já estão sendo tomadas. Em apenas três dias seguidos, no fim de junho, a Braskem anunciou projeto de nova planta de US$ 240 milhões com a Petrobrás, a Suzano adquiriu gorda fatia de um sócio estrangeiro numa controlada e criou uma companhia operacional para o setor e o pólo gasoquímico foi inaugurado no Rio de Janeiro. Estes são só os primeiros passos do grupo de companhias do setor. Citando algumas: Unipar, Ipiranga Petroquímica, Petroquisa, da Petrobrás, e as múltis Solvay e Dow Química.

"O mundo caminha em direção à consolidação. O setor requer escala e competitividade e as empresas todas de capital aberto sabem que o mercado é generoso com as companhias que agregam valor e castiga as que não agregam", disse ao Estado o presidente da Suzano Holding, David Feffer. Ao adquirir a participação da Basell - parceria entre as gigantes Basf e Shell desfeita este ano - na Polibrasil, a empresa deu o primeiro passo para uma posição mais agressiva na disputa que será travada nos próximos anos.

Na prática, o grupo quer ganhar estatura para participar do momento, considerado inevitável, de consolidação na Região Sudeste. É consenso no setor que a Petroquímica União (PQU), que tem a Unipar como principal acionista, terá de caminhar para uma integração de ativos, a exemplo do que foi feito pela Braskem no Pólo de Camaçari, na Bahia.

Especula-se que, no futuro, a reorganização da região sudeste poderia incluir o pólo fluminense - no qual participam a Unipar e a Suzano. "Precisamos dar maior racionalidade industrial nos ativos de São Paulo", afirma o vice-presidente do Grupo Unipar, Vitor Mallamann. A idéia, de forma geral, é criar uma grande empresa que reúna os ativos da PQU, que fabrica a matéria-prima, com clientes do pólo. Os maiores acionistas da PQU são Unipar (37%), Petrobrás (17%), Dow (13%), além de outros, dentre eles a Polibrasil. Dentre os clientes, Unipar, Dow e Solvay.

Mallmann não dá detalhes. "Temos conversado com os atores no sentido de criar uma empresa integrada em São Paulo." O executivo lembra que, por volta de 2010, haverá necessidade adicional de 1 milhão de toneladas de eteno (insumo setorial) e as empresas querem ocupar este espaço. A PQU definiu expansão de 200 mil toneladas com investimentos de US$ 175 milhões. A Polietilenos União também ampliará a produção. A próxima etapa seria a integração de ativos locais e novas expansões de capacidade.

A questão é que todas querem crescer - e por isso estão se posicionando desde já. Tome-se o caso da Braskem. O grupo se aliou à Petrobrás e despontou como alternativa para atender um déficit potencial de 500 mil toneladas na oferta de polipropileno, apontado por especialistas a partir de 2008. O projeto foi desenhado pela estatal.

A planta da Braskem ficará em São Paulo, para aproveitar excedentes de insumos das refinarias da estatal no Estado. Os olhos da Braskem estão voltados para o Sul do País. A empresa, que tem os pés já fincados no Nordeste, não esconde o desejo de liderar a integração do pólo de Triunfo, onde divide o controle com a Ipiranga e a estatal. "O ideal seria ter 100% de participação lá, mas a Ipiranga não é vendedora", lamentou o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich.

Os 15% da Petrobrás na Copesul, central de matérias-primas local, já estão em negociação. A estatal tem até setembro para decidir se aceita uma troca de ativos, segundo a qual aumentaria sua participação na própria Braskem em troca da transferência de suas ações no pólo do Sul para a empresa.

Dona de 30% da central, a Ipiranga, porém, tem direito de preferência sobre metade do bolo. Na última semana, antecipou o pagamento de US$ 136 milhões em dívidas e recuperou o fôlego para novas investidas.

Mercado para novos investimentos há: de acordo com estudo do BNDES, o País precisa ampliar sua capacidade de produção de polipropileno, PET e PVC já em 2008, sob o risco de ter que importar. Em 2013, todas as resinas estarão em falta. A carteira do banco hoje tem R$ 2 bilhões em projetos no setor. Técnicos do banco acreditam, porém, que a tendência é a concentração em um número menor de empresas, mais capacitadas para enfrentar a concorrência internacional.