Título: Denúncia de corrupção derruba Silvio Pereira da direção do PT
Autor: Mariana Caetano e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Nacional, p. A4

O secretário-geral do PT, Silvio Pereira, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como "gerente" do mensalão, pediu licença ontem da executiva nacional do partido, para que possa defender-se das acusações. "Para que eu possa me dedicar integralmente a minha defesa, solicito a partir desta data, 4 de julho de 2005, minha licença da Comissão Executiva Nacional bem como de todas as minhas atribuições partidárias", pediu ele na nota dirigida à presidência do partido. Em um segundo comunicado, ele solicitava "que seja aberto o Processo de Comissão de Ética para a apuração de todas 'denúncias' envolvendo meu nome". Ao decidir pela licença, Pereira antecipou-se à provável orientação da executiva - que se reúne hoje em São Paulo - por sua saída _ e, também, pela do tesoureiro Delúbio Soares. Seu desligamento é mais uma vitória de Jefferson, que em sua luta aberta com a direção do PT já derrubou José Dirceu da Casa Civil e três diretores de Furnas.

Há expectativa de que Delúbio Soares também informe, hoje, sua decisão de se afastar do cargo. Um petista que esteve ontem com o tesoureiro do PT disse, porém, não ter sentido a intenção de o tesoureiro se afastar espontaneamente.

O pedido de licença foi interpretado como tentativa de Pereira de se descolar da imagem de Delúbio, apontado por Jefferson como "operador", ao lado do publicitário Marcos Valério, do suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. Pereira, um dos responsáveis pela distribuição de cargos de confiança no governo do PT, despachava na ante-sala do gabinete de José Dirceu na Casa Civil, segundo Jefferson.

A decisão de deixar a secretaria-geral já vinha sendo amadurecida por Silvio Pereira desde 6 de junho, quando Jefferson iniciou seus ataques. No dia 9, ele confidenciou a amigos, com os olhos cheios de lágrimas, o desejo de sair para preparar sua defesa. Disse que "não confiava mais em ninguém" e chamou Dirceu, de quem é próximo, de "neurótico". "Corre sangue nas minhas veias", disse ele, ao enfatizar os estilos diferentes dele e do ex-ministro.

A licença de Pereira e a expectativa de que Delúbio siga seu exemplo deverão reduzir a pressão sobre Genoino, também na corda bamba. O presidente do PT está especialmente irritado com parte do Campo Majoritário, principal corrente petista - da qual ele faz parte -, que tem defendido seu afastamento. Domingo à noite, em seu escritório em São Paulo o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) foi anfitrião de reunião com seu grupo político, e da qual participaram prefeitos, deputados e vereadores. No encontro se discutiu uma carta de prefeitos cobrando a saída de Genoino, Delúbio e Pereira. "Genoino sempre foi exemplo de seriedade", disse Mercadante, negando que defenda sua saída.