Título: Partido agora teme Delúbio, o 'homem-bomba'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - A crise política provocada pela descoberta de que o publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, avalizou empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT - e pagou uma de suas prestações - abriu uma guerra sem precedentes no partido. A rede de intrigas e a tática do "salve-se quem puder" bateu forte no PT porque, além de todos os problemas, o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, é considerado pelo governo e por integrantes do Campo Majoritário como o "homem-bomba". Delúbio sabe das operações financeiras do PT desde 2000. Pior: diz com todas as letras que só ficou na tesouraria, depois que seu partido chegou ao poder, porque Lula pediu. No clima de desconfiança geral, petistas temem que, magoado, Delúbio comprometa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a cúpula do governo, o único que pode "controlar" Delúbio quando ele se afastar do partido é o presidente do PT, José Genoino. Sendo assim, até ontem a estratégia em estudo no Planalto ia na seguinte direção: se nada mais aparecer contra Genoino - que diz ter assinado o contrato de empréstimo, no início de sua gestão, sem saber nem quem era Valério -, ele pode ser mantido no comando, mesmo temporariamente. Viraria, assim, um "pára-raio".

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, discorda dessa tática e considera "quase irreversível" o desgaste de Genoino. Há uma queda-de-braço em curso no governo e no PT e é difícil prever o seu desfecho. Muito abalado com o escândalo, Genoino jura inocência e chora. Sob intensa pressão, não se sabe quanto tempo agüentará ficar no cargo. Por mais de uma vez ameaçou renunciar.

Preocupado, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, telefonou ontem para Genoino e reafirmou que o presidente mantém apoio e solidariedade a ele. No sábado, Lula disse ao companheiro: "Agüente firme. Segure o tranco."

Não foi o mesmo tom usado em relação a Delúbio e ao secretário-geral do PT, Silvio Pereira, que ontem comunicou seu afastamento. Desde as primeiras denúncias de corrupção, Lula pressiona o PT pela saída de Silvio e Delúbio. Há 15 dias, porém, na última reunião do diretório nacional, a atuação do ex-ministro José Dirceu, em dobradinha com Genoino, foi decisiva para a manutenção do tesoureiro e do secretário-geral.

Agora, a tendência é que Delúbio entregue o cargo até sábado, apesar de sua resistência. Hoje ele apresentará explicações à executiva, em São Paulo. Integrantes do Campo Majoritário, grupo que reúne a ala moderada, telefonaram para Lula, no domingo à noite. Pediram sua intervenção no episódio. A saída de Delúbio é praticamente um consenso, mas muitos moderados temem que ele ponha mais lenha na fogueira em depoimento à CPI dos Correios.

Com ou sem a renúncia de Genoino, o certo é que a executiva do PT sofrerá mudanças. A idéia é pôr em postos de comando pessoas com mais visibilidade, como os ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Saúde, Humberto Costa, que devem sair na reforma ministerial.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou confiar em Genoino. "É preciso promover uma reestruturação no PT, mas Genoino tem história de dedicação ao País, jamais houve qualquer fato desabonador à sua conduta e ele deve permanecer."

Na mais grave crise do governo e do PT, porém, as opiniões se dividem. Berzoini pregou a renúncia de toda a cúpula. "Não se trata de um prejulgamento, mas a situação é crítica. A direção precisa entregar os cargos até para se defender." Já o ministro da Educação, Tarso Genro, disse não ser possível pôr o presidente do PT na vala comum. "Conheço Genoino há 30 anos. Pode ser que ele tenha cometido algum erro, de não perceber coisas acontecendo, mas é incapaz de qualquer ato ilícito ou imoral", comentou.