Título: Publicitários e conterrâneos rejeitam empresário
Autor: Marcelo de Moraes e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Nacional, p. A8

CURVELO - Desde que surgiu nas denúncias do mensalão, o nome do mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza passou a ser acompanhado pelo aposto "publicitário de Curvelo". Nas agências de Belo Horizonte, as pessoas ligadas à criação se apressam a informar que ele nunca foi propriamente publicitário, mas um empresário do ramo. Em Curvelo, na região central de Minas, os moradores adotaram uma tática parecida. "Curvelano ele não é. Pode até ter nascido por aqui, mas não carrega a cidade no coração. Nunca o vi por aqui", avisa logo o prefeito da cidade, Maurílio Soares Guimarães (PFL).

Curvelo tem 68 mil habitantes e está recebendo nesses dias uma multidão que pode chegar a 50 mil. Por causa das comemorações dos 25 anos do Forró de Curvelo, o lugar está lotado. Apesar da efeméride, o assunto que domina é mesmo Valério. No jornal local, ao lado das fotos das barraquinhas, está impresso um sinal vermelho, de reprovação ao publicitário.

"Isso chateia os curvelanos, que vêem o nome de Curvelo toda hora nos jornais, de forma vergonhosa. Curvelano de verdade não é isso. Vermelho de vergonha para ele!", conclama o texto. E uma charge mostra o filho da terra com uma faixa onde se lê: "Pô, cara! Sujando o nome da terrinha, hein?"

A família de Valério é de Jacobina, zona rural de Morro da Garça, município emancipado de Curvelo nos anos 60. Um grupo dos Fernandes chegou a ter um armazém diante do Mercado Municipal, a Casa Fernandes. Mas a primeira geração se mudou para Belo Horizonte.

"Ele é falastrão e adora dizer que tem contato com políticos importantes. Falava em voz alta de dinheiro que corria nas campanhas. Uma hora, isso ia dar confusão", diz um morador, que conviveu com Valério, mas prefere não se identificar.

Transformado em filho renegado, Valério irrita a população da cidade, que se orgulha por ser citada por Guimarães Rosa - "Curvelo é a capital da minha literatura", disse o escritor - e por ter exportado nomes como o do escritor Lúcio Cardoso, da estilista Zuzu Angel e do galã Ângelo Antônio.

"Assim que o nome dele começou a aparecer, corri para ver quem era. Mas ele não é muito conhecido aqui. Eu nunca vi mais careca", afirma Antonio Salvo, curvelano e presidente da Associação Mineira dos Criadores de Zebu.