Título: Agenda liga Valério à Casa da Moeda
Autor: Marcelo de Moraes e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - A agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza Fernandes, registra que ele manteve pelo menos quatro contatos com o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino dos Santos. Os contatos ocorreram entre 20 de novembro e 8 de dezembro de 2003. O primeiro registro associa Manoel Severino ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares. A anotação, referente a 20 de novembro, diz: "Ligar Manoel Severino Delúbio". Embaixo dos nomes aparece sublinhada a palavra "urgente". Manoel Severino não é personagem desconhecido da política petista. Ele é ligado ao PT do Rio - onde fica a sede da Casa da Moeda Rio - e foi secretário estadual de Articulação Governamental no governo de Benedita da Silva. É ligado politicamente ao secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, e conhece bem o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

"Ele está em pânico porque sabe que seu nome vai aparecer mais cedo ou mais tarde" disse uma fonte que teve acesso a funcionário da Casa da Moeda.

E apareceu. A agenda mostra outro contato em 27 de novembro, às 9h30: "Manoel - C.Moeda." Em 3 de dezembro, outra anotação, logo depois das 12 horas: "Presidente C.Moeda, marcar p/ (para) Luis Sales ¿ (não) esquecer." O último registro aparece em 8 de dezembro: "16:00h - Reunião Manoel."

Manoel Severino foi citado em outro episódio. Em fevereiro de 2004, Luiz Eduardo Soares, que foi candidato do PT em 2002 a vice-governador no Rio e coordenador de transição entre os governos de Anthony Garotinho e Benedita, afirmou que avisou a colegas de partido que soubera de suspeitas sobre a atuação de Waldomiro Diniz, então no comando da Loterj.

Uma das pessoas que Luiz Eduardo teria alertado foi Severino, que era secretário de Benedita. Na época, Severino afirmou que não se lembrava de nenhum comentário feito por Luiz Eduardo a esse respeito.

A Casa da Moeda é um órgão essencialmente técnico, ligado ao Ministério da Fazenda. Por isso chama a atenção a opção do governo por Manoel Severino, de perfil político, para dirigi-la. Além de emissão de moeda, sua atuação é ampla. Segundo seu site (www.casadamoeda.com.br), por exemplo, o Departamento de Gráfica Geral "produz documentos de segurança diversos, destacando-se: passaportes; selos fiscais; selos postais; bilhetes magnetizados para transporte de massa (metrô e ônibus); cédulas de identidade; carteira nacional de habilitação; carteiras de trabalho", etc.

Apesar da atuação ampla, a Casa da Moeda não pode contratar agência para fazer propaganda, o que torna a relação entre Manoel Severino e Valério mais estranha ainda.