Título: G-8 prepara encontro histórico
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Internacional, p. A13

LONDRES - Desde sua primeira edição em 1975 na cidade francesa de Rambouillet, poucas vezes um encontro do clube dos países mais ricos gerou tanta expectativa na opinião pública mundial como o que ocorrerá entre amanhã e sexta-feira no Hotel Gleneagles, numa belíssima região do interior da Escócia. Geralmente dominados por temas geopolíticos, macroeconômicos ou pela questão do terrorismo, esta reunião do G-8 (os sete países mais ricos e a Rússia) pretende entrar para a história como um marco de ações concretas para o fortalecimento do combate à pobreza na África e de ações para conter a mudança climática no planeta.

Os concertos Live8, promovidos no sábado pelo músico Bob Geldof nas capitais dos países do G-8 e as manifestações programadas em diversas cidades do mundo nesta semana mostram que a agenda do G-8, após alguns poucos anos de trégua com o declínio dos protestos antiglobalização, voltou a mobilizar a opinião pública.

Mas os sinais até o momento aconselham cautela com os resultados de Gleneagles. Avanços deverão ocorrer, mas eles ficarão aquém do esperado. "Poderemos ter resultados concretos positivos para mostrar ao mundo nesta semana, mas eles ainda não estão garantidos", disse o principal negociador britânico e coordenador dos documentos finais da reunião do G-8, o subsecretário de Relações Exteriores, Michael Jay.

O tema que mais divide os países ricos é como tratar o controle da emissão de gases carbônicos para evitar o efeito estufa. Os países do G-8, somados, representam 65% do PIB mundial e 47% das emissões. O governo americano reiterou sua oposição ao Protocolo de Kyoto, o acordo entre mais de 140 países que prevê a diminuição das emissões de dióxido de carbono. A administração Bush continua insistindo que os dados científicos disponíveis não são suficientes para justificar compromissos para o controle ambiental e que os grandes países em desenvolvimento, como Índia e China, também precisam participar desse esforço.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ansioso para mostrar aos britânicos que seu apoio incondicional à Casa Branca na guerra contra o Iraque começa a render frutos, tem pressionado o presidente George W. Bush a adotar uma posição mais moderada.

No que se refere à meta de dobrar a ajuda financeira para o desenvolvimento da África, as perspectivas são mais promissoras. O G-8 anunciou recentemente o perdão da dívida de 18 países africanos junto ao FMI e o Banco Mundial. Além disso, Canadá, Itália e Japão já se comprometeram a elevar suas contribuições para a África. Com isso, segundo Jay, será possível canalizar para a região US$ 25 bilhões extras anuais até 2010.

Apesar de discordâncias sobre como essas verbas devem ser distribuídas, surpresas positivas poderão ocorrer até o anúncio do comunicado final.