Título: Lula quer apoio para o déficit zero
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já concordou com o plano de déficit nominal zero apresentado pelo deputado Delfim Netto (PP-SP), mas disse aos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, que não tomará a iniciativa de encaminhar ao Congresso a proposta de emenda constitucional (PEC) que limita os gastos públicos e desvincula receitas se não tiver o respaldo da sociedade e das principais lideranças políticas. Essa PEC é a base do programa e sua aprovação é considerada essencial para que o governo alcance a meta de déficit zero. O setor público tem déficit nominal zero quando faz poupança suficiente para pagar todas as suas despesas, incluindo os juros de suas dívidas. Atualmente, o setor público brasileiro tem como meta uma poupança (superávit primário) equivalente a 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), mas ela não é suficiente para pagar toda a conta dos juros. Por isso, no ano passado, as contas públicas apresentaram déficit nominal equivalente a 2,66% do PIB.

Lula tem consciência de que as mudanças são polêmicas e poderão despertar fortes reações contrárias. O presidente não quer passar pelo desgate de que a PEC não ande por falta de apoio político.

Por causa disso, Lula e seus ministros, durante as três reuniões que realizaram sobre o déficit zero, encarregaram Delfim de "vender" a idéia para a sociedade. Em conversa com o Estado, o parlamentar paulista disse que a proposta de déficit zero deve ser uma iniciativa da sociedade. A articulação de Delfim começa hoje, em jantar com os mais importantes empresários do País, os ministros Palocci e Bernardo e representantes de oito partidos políticos, que será realizado numa casa de eventos no Lago Sul de Brasília.

O resultado desse jantar vai definir os próximos passos. Delfim acha que a proposta será submetida a todo o tipo de questionamento e ele está disposto a defendê-la em outros fóruns. A avaliação feita por ele é a de que apenas os setores mais corporativos, ligados ao PT e aos partidos mais à esquerda, é que poderão reagir contrariamente.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que tem presença confirmada, disse ontem que a entidade apóia a proposta de zerar o déficit nominal, mas quer mais. "Queremos um superávit nominal, ainda que seja de apenas 1% ou menos. Precisamos pagar todas as contas e juros, e ainda sobrar algum dinheiro. Do contrário, não adiantará nada, o esforço fica desperdiçado."

Skaf fez questão de desvincular a discussão do déficit zero da crise política. "O que importa para o País é o enfrentamento da questão do gasto público e os resultados sejam positivos. É uma ação econômica necessária, e não estamos interessados em discutir o que ela tem a ver com a crise política."

PRESENÇAS

Foram convidados o presidente da Fiesp, Paulo Skaf; da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro; da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil, Antônio Ernesto de Salvo; da Confederação Nacional do Comércio, Antônio de Oliveira Santos; e Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim) , Benjamin Steinbruch (CSN), Fernando Botelho (Camargo Corrêa) Ivoncy Iochpe (Iedi), João Guilherme Sabino Ometto (Ometto), Jorge Gerdau (Gerdau), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Márcio Cypriano (Bradesco), José Safra (Safra), Pedro Novis (Odebrecht), Pedro Moreira Salles (Unibanco), Roberto Setubal (Itaú) e Rogelio Golfarb (Anfavea)

Também foram convidados os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP), Delcídio Amaral (PT-MS), Fernando Bezerra (PTB-RN), Renan Calheiros (PMDB-AL), Rodolpho Tourinho (PFL-BA), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e os deputados Carlito Merss (PT-SC), Custódio Mattos (PSDB-MG), Eliseu Resende (PFL-MG), Fernando Gabeira (PV-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), João Almeida (PSDB-BA), Júlio Semeghini (PSDB-SP), Pauderney Avelino (PFL-AM), Roberto Brant (PFL-MG), Sérgio Miranda (PCdoB-MG) e Vilmar Rocha (PFL-GO).