Título: Petistas afastados disputavam espaço na cúpula
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Nacional, p. A4

Delúbio Soares e Silvio Pereira, os dois dirigentes do PT que a crise do mensalão derrubou, nunca foram amigos. Ao contrário, viviam às turras. Embora pertencessem ao Campo Majoritário, grupo que reúne as facções moderadas do PT, também não atuavam em dobradinha, como muitos imaginam. Silvinho, como é conhecido, sempre obedeceu a ordens do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Desde a época em que Dirceu presidiu o PT, Silvinho achava que Delúbio tinha "autonomia demais" sobre os recursos do partido.

A dupla travava uma disputa por espaço na cúpula petista. Delúbio sempre foi ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A amizade com Lula vem dos tempos de sindicalismo. Delúbio foi dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e entrou na Executiva do PT em 2000, quando Lula era presidente de honra do partido. Até o último sábado, ele dizia que não renunciaria ao cargo "nem que Lula pedisse".

Quando o PT chegou ao Planalto, as divergências entre Silvinho e Delúbio se acentuaram. O secretário-geral reclamava que vira-e-mexe o tesoureiro entrava em sua área. Em outras palavras: negociação de cargos.

"Eu nunca indiquei ninguém para o governo", disse Delúbio ao Estado. Sua afirmação foi feita em julho do ano passado, logo depois do escândalo provocado pela descoberta de que o Banco do Brasil desembolsara R$ 70 mil na compra de ingressos para o show de Zezé Di Camargo e Luciano, numa churrascaria de Brasília, com o objetivo de construir a nova sede do PT.

Na época, quem autorizou a transferência de recursos foi o diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, amigo de Delúbio. Mas o tesoureiro jurou que não havia indicado para o cargo nem Pizzolato nem ninguém. "Eu mesmo gostaria de ter ido para o governo e não fui", argumentou. "O presidente Lula me pediu para continuar na Secretaria de Finanças."

No dia-a-dia do PT, a única divergência de Silvinho em relação ao presidente do partido, José Genoino, tinha Delúbio como causa. O secretário-geral achava que Genoino, por preferir se dedicar à política, confiava demais no tesoureiro e delegava a ele, cegamente, toda a administração das finanças.

"Eu estou muito triste", afirmou Silvinho ao Estado, ao lamentar a falta de solidariedade entre os companheiros. "Terei o maior prazer de ser ouvido nas investigações, até porque não fiz nada de ilícito." Pouco antes de seu afastamento, o secretário-geral do PT teve rusgas até mesmo com Dirceu por ter se sentido abandonado.

"Nunca tive a chave dos cargos. Nunca nomeei ninguém, porque sempre quem decidiu tudo foi o governo", disse Silvinho. "As pessoas imaginavam que eu tinha mais poder do que possuía de fato. Quando entrei nesse trabalho, meu foco era a relação com os Estados. Eu resolvia as coisas do PT e quando havia conflitos com a base. Mas o grosso dos cargos estava na Esplanada dos Ministérios e aí nem o PT nem a base aliada indicaram ninguém."

Conhecido como "Magda" do PT por trocar palavras nas frases - é de sua autoria a famosa "uma pulga atrás da ovelha" -, Silvinho ainda defende Genoino e diz que provará a sua inocência.

Delúbio, por sua vez, acha que toda a crise é fruto de um "complô" da direita para derrubar Lula. Emocionalmente muito abalado, o tesoureiro vive chorando. No PT e no governo ele é chamado de "homem-bomba" por saber demais. Seu mais próximo interlocutor, no momento, é mesmo Genoino.