Título: Escândalo também derruba Delúbio, o homem do cofre do PT
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Nacional, p. A4

Um mês depois de ter o seu nome citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na denúncia sobre o pagamento de mensalão a deputados do PP e do PL em troca de apoio ao governo, o secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, cedeu ontem às pressões dos companheiros e pediu licença do cargo. Resistiu muito, mas a situação ficou insustentável depois de revelada a informação de que o publicitário Marcos Valério de Souza, seu amigo, foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT em 2003 e ainda quitou parte da dívida. As agências de Valério mantêm contratos de R$ 144 milhões com o governo Lula. Delúbio seguiu os passos do secretário-geral do PT, Silvio Pereira, que se afastou na véspera. Ciente de que, se não tomasse a iniciativa, correria o risco de ter sua licença levada a voto na reunião de ontem da executiva do partido, o tesoureiro - chefe de um cofre de R$ 48 milhões - preparou sua carta e pedido de licença na noite de segunda-feira.

"Não temo. Tenho a plena consciência de nunca haver transgredido os princípios éticos da prática política. Prova eloqüente disso é o meu reduzido patrimônio", afirmou Delúbio, na nota enviada à executiva, que se reuniu em caráter emergencial para tratar das denúncias contra o PT. Assim como Pereira, Delúbio pediu afastamento da função "pelo tempo em que perdurar a apuração".

No discurso de cerca de 20 minutos, ele repetiu que Valério é seu amigo e não colocou em dúvida a idoneidade do publicitário. Explicou que o publicitário se ofereceu para servir de avalista e fez questão de preservar o presidente da legenda, José Genoino, isentando-o de responsabilidade sobre a negociação do empréstimo ou informações erradas prestadas pelo companheiro sobre a dívida.

Delúbio fez uma exposição bastante contida, muito diferente da apresentação emocionada da reunião anterior da executiva - ao falar da juventude em Goiás -, ou do choro público em Goiânia, na semana passada. Na ocasião, atribuiu as denúncias a uma ação orquestrada contra o governo: "A direita e os conservadores querem fazer o impeachment do presidente."

Delúbio não ouviu cobranças sobre a sua própria honestidade, mas vários integrantes da executiva criticaram a "falta de cuidado" ao escolher Valério como avalista. "Conduzi com seriedade e honestidade os assuntos financeiros do PT durante o tempo em que exerci a Secretaria de Finanças e Planejamento", afirma Delúbio, na nota.

O partido fechou suas contas no ano passado com déficit de 40%. Só no Banco do Brasil, a sigla tem uma dívida de R$ 20 milhões. O tesoureiro reiterou que está disposto a abrir o seu sigilo bancário, fiscal e telefônico à CPI dos Correios.

Pereira fez o mesmo. Falou antes de Delúbio, alegando razões pessoais para se afastar. Em entrevista no site do PT na internet, negou que esteja magoado com companheiros do partido.

SUBSTITUTOS

O secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, está entre os nomes mais cotados para substituir Pereira na secretaria-geral petista. Dulci, aliás, ocupava o cargo antes da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Saúde, Humberto Costa, também tem sido citado - ele deve deixar o primeiro escalão do governo após a reforma ministerial. Outro nome lembrado para a vaga é o do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Os titulares da Secretaria de Finanças e da Secretaria-Geral do PT serão escolhidos na reunião do diretório nacional, que vai tratar da recomposição da estrutura da executiva, no fim de semana. Outros membros da comissão - que acatou os pedidos de licença de Pereira e Delúbio - podem ser substituídos na ocasião. Para o lugar de Delúbio, tem sido muito citado o nome do diretor da CUT e ex-tesoureiro de campanhas do PT, João Vaccari Neto. "Não fui sondado", desconversou ele. "Só não será o Vaccari se ele não quiser", afirmou um integrante da executiva.