Título: Genoino chora, e espera decisão de destino no sábado
Autor: Vera Rosa e Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem cedo para José Genoino. Cumprimentou o presidente do PT por seu desempenho no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira à noite. "Você segurou a crise", disse. Genoino agradeceu. Depois, chorou. Em conversas reservadas, Genoino alterna momentos de esperança com uma depressão profunda. "Estou no fundo do poço", afirmou ele, no fim de semana, para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Embora o Campo Majoritário, grupo que reúne a ala moderada do PT, esteja dando hoje mais retaguarda a Genoino, ainda é forte a pressão para que ele deixe o cargo. Até mesmo sua filha Miruna - que está na Espanha - apela pela saída do pai, em nome de sua biografia.

Genoino foi convencido por Lula a ficar no cargo, no fim de semana. Mas está ouvindo amigos e assessores e ainda pode renunciar. Sua decisão só deverá ser anunciada no sábado, no primeiro dia da reunião do diretório nacional do PT, quando haverá a mudança da executiva do partido.

A crise do mensalão vai derrubar mais integrantes da executiva. Depois do afastamento do tesoureiro, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira, o próximo a cair deve ser o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno - também citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

A degola da executiva é pedida sobretudo por facções à esquerda no espectro ideológico do PT. Na tarde de ontem, em Brasília, um grupo de 18 deputados divulgou uma declaração intitulada Em Defesa dos Valores do PT, pedindo mudanças na cúpula.

"Face à crise de legitimidade e credibilidade que atinge membros da direção nacional do partido, propomos a recomposição da executiva, sem a presença de todos os dirigentes acusados - que devem dedicar-se à sua defesa - e presidida por quem tenha autoridade moral e isenção política para conduzir o PT." Na lista dos signatários estão os deputados Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP).

Ainda ontem, antes da reunião da executiva, Genoino tomou café da manhã com 12 prefeitos do PT paulista. Deste total, dez pediram para ele ficar e dois (Elói Pietá, de Guarulhos, e Newton Lima, de São Carlos) recomendaram sua saída. Os prefeitos são do "grupo de Mercadante", que ontem telefonou para Genoino e pediu desculpas por tê-lo magoado. "Eu entendi que ele assinou o empréstimo em confiança ao Delúbio", afirmou. "Ele deve ficar na presidência do PT."

A reunião do diretório nacional será uma prova de fogo para o Campo Majoritário. Com quase 55% das cadeiras no diretório, o grupo atua há dez anos sem enfrentar oposição interna que ameace a orientação partidária que impõe ao partido. Mas a atual crise, a pior em toda a história do PT, pode fortalecer as facções de esquerda. Com 33% dos integrantes da cúpula do PT, elas começam a ganhar solidariedade de grupos do "centro" petista.

Um sinal dessa nova união foi visto na reunião de ontem, com uma proposta de resolução, com críticas à direção, assinada em conjunto pela Democracia Socialista, Articulação de Esquerda e o moderado Movimento PT. Tiveram 6 dos 16 votos da reunião.