Título: Sem avalista, Banco do Brasil emprestou R$ 20,6 mi ao PT
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Nacional, p. A6

Não só do Rural e do BMG o Partido dos Trabalhadores tomou dinheiro depois que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República - o Banco do Brasil também faz parte da lista de instituições financeiras às quais o PT recorreu para fazer empréstimos. A oposição no Senado e na Câmara investiga os contratos, que somam R$ 20,6 milhões, porque avalia como "estranha" a relação entre um banco estatal e o partido do presidente. "A verdade vai aparecer", declarou o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB. Pelo menos três operações foram declaradas oficialmente pela cúpula do partido. Uma delas ocorreu em 31 de dezembro de 2004, no valor de R$ 3,5 milhões. Os outros dois contratos são de leasing para informatização de diretórios.

Em nome do partido, assinaram os contratos com o BB o presidente da sigla, José Genoino, e o ex-tesoureiro, Delúbio Soares de Castro, apontado como operador do mensalão. Mas ninguém avalizou o negócio, ao contrário das transações com o BMG em que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza assina como avalista, ao lado de Genoino e Delúbio. A garantia ficou por conta da arrecadação do PT.

As informações sobre os empréstimos bancários do PT constam da demonstração de obrigações a pagar que o comando do partido enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Estão incluídas no documento as transações com o BMG S/A, de 17 de fevereiro de 2003, no valor de R$ 2,74 milhões, e as que foram fechadas com o Rural - dois contratos no mesmo dia, 21 de dezembro de 2004, totalizando R$ 5,3 milhões, dos quais R$ 137 mil são referentes a juros sobre o empréstimo.

Os dois contratos de leasing com o Banco do Brasil foram firmados em 26 de fevereiro e 16 de abril de 2004, o primeiro no valor de R$ 7,42 milhões, o outro de R$ 8,37 milhões. As condições do negócio envolvendo o PT e um banco estatal é alvo de desconfiança de senadores e deputados desde o ano passado. Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, enviou requerimento de informação ao ministro Antonio Palocci, da Fazenda, solicitando dados acerca de "financiamento concedido pelo Banco do Brasil ao PT para aquisição de computadores para diretórios do partido".

Virgílio quer saber qual a fonte dos recursos, prazo de pagamento, taxa de juros praticadas e se a linha de crédito oferecida ao PT corresponde a alguma operação especial ou é comum no mercado. O senador questionou Palocci se o PT teria garantias reais a oferecer "numa operação dessa magnitude".

Ele indagou do ministro sobre outros partidos que, eventualmente, teriam sido beneficiados com transações semelhantes. "Há disponibilidade de recursos para outras operações dessa natureza que possam ser destinados a outros partidos políticos?", insistiu. Virgílio também quis saber se "não há conflito de interesses em uma operação que envolve um banco estatal e o partido do presidente da República".

Palocci respondeu ao pedido do senador, mas com dados incompletos. O ministro alegou sigilo bancário. Virgílio decidiu insistir porque considera que o governo adotou uma tática para escapar à prestação de contas. "Você pergunta para o governo, ele responde vagamente, aí você se diz insatisfeito com a resposta. É uma tática (do governo) para não informar de maneira conveniente. É claro que vou insistir e dessa vez a verdade vai aparecer."

TENTÁCULOS

A oposição suspeita que o Banco do Brasil pode ter operado nos moldes do Rural e do BMG para favorecer o PT. O senador disse que é avesso a acusações sem comprovação, mas ressaltou: "Eu sinto que as coisas estão se afundando em mais tentáculos de um escândalo de contornos infelizmente ainda não delimitados."

A assessoria do BB informou que a Lei Complementar 105 (lei do sigilo) proíbe que o banco comente operações de clientes. Em abril, o Tribunal de Contas da União concluiu auditoria e arquivou processo relativo aos juros de empréstimo do banco ao PT.