Título: Félix teria brecado investigações nos Correios
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Nacional, p. A10

O coordenador-geral de Operações Sistêmicas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Edgar Lange, informou ontem à CPI dos Correios que recebeu ordens de seu superior, Paulo Ramos, para interromper as investigações sobre denúncia de corrupção na empresa estatal. Ramos teria determinado a Lange a suspensão dos trabalhos logo após a divulgação da gravação em que o ex-chefe do departamento dos Correios Maurício Marinho aparece falando sobre fraude nas licitações e recebendo a quantia de R$ 3 mil. "O plano de operação estava pronto com o maior número de dados possível", disse Lange. A determinação, segundo afirmações feitas por ele, partiu do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix.

"Tal afirmação reforça suspeita de conluio, operação abafa, quando eram certos os indícios de corrupção na administração pública", protestou a senadora Heloisa Helena (PSOL-AL), logo após ouvir o depoimento durante a CPI.

As datas citadas perante a comissão endossam a acusação da senadora e outros parlamentares. Lange confirmou que o despacho de Ramos para produzir o "conhecimento de inteligência de denúncia recebida" foi enviado no dia 5 de abril. No dia 6, segundo seu depoimento, montou a equipe para o trabalho e juntou documentos. Mas, a 16 de maio, um dia após a divulgação da gravação, ele teria recebido ordem para suspender atividades ligadas à corrupção nos Correios. No total foram 42 dias de trabalho.

PREJUDICADO

O depoimento do agente da Abin foi prejudicado pelas seguidas vezes em que se recusou a responder, alegando impedimento por atuar com dados sigilosos. Disse crer que Ramos tenha encaminhado relatórios preliminares ao diretor-geral da agência, Mauro Marcelo de Lima e Silva. Mas não soube dizer se chegaram ao general Félix e ao presidente Lula.

Durante o depoimento, o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) solicitou informações à Abin sobre regime de contratação, na agência, de Aparecida Dichiki, que seria parente do ex-secretário-executivo da Presidência, Swedenberger do Nascimento Barbosa, e Pedro Longuinho de Andrade, que, segundo o pefelista, seria motorista do PT do DF.

Pela manhã, o ex-agente da Abin Jairo Martins tinha confirmado que comprou o equipamento para gravar Marinho por R$ 7 mil a pedido de Arthur Washeck. Mas, ao contrário do empresário, Jairo disse que desde o início o objetivo era tornar pública a gravação, passando-a à revista Veja.