Título: G-8 está mais perto do consenso
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Internacional, p. A14

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, recebe seus convidados para a reunião do G-8, que começa hoje na Escócia, confiante de que haverá consenso entre os líderes dos países mais ricos do mundo e a Rússia. Um porta-voz de Blair disse que o comunicado final do encontro deverá mostrar progressos concretos nas principais áreas em debate: África e clima. Mesmo na questão da mudança climática, que mais divide o G-8, Blair indicou que progressos já foram feitos durante as negociações preliminares. Apesar do otimismo, algumas questões ainda estão em aberto e serão debatidas até sexta-feira, final da reunião.

São dois os focos de tensão que podem atrapalhar os ambiciosos planos de Blair de tornar o evento um ponto de partida para uma agenda internacional mais positiva.

Nas ruas, o maior esquema de segurança já montado na Grã-Bretanha vai tentar evitar que as manifestações de protesto acabem se transformando em cenas de pancadaria entre ativistas anticapitalismo e policiais, como já ocorreu na segunda-feira.

Nas salas do Hotel Gleneagles, sede do evento localizada a cerca de 60 quilômetros de Edimburgo, os líderes dos sete países mais ricos e a Rússia iniciarão durante um jantar os debates para tentar apresentar ações concretas na ajuda à África e no combate à mudança climática no planeta.

Além da resistência americana a avanços mais substanciais nos dois temas, surgiu a ameaça de que o presidente francês, Jacques Chirac, possa estragar a festa com críticas agudas ao presidente americano, George W. Bush, e a Blair. Segundo a imprensa britânica, essa possibilidade poderá ganhar força caso Londres vença Paris hoje na corrida para sediar as Olimpíadas de 2012.

As relações entre os dois países vivem tempos turbulentos desde a guerra no Iraque. Elas foram agravadas com as discordâncias sobre a Constituição e o orçamento da União Européia. Os recentes comentários do líder francês sobre a culinária britânica serviram para estressar ainda mais as relações entre os dois países que disputam uma posição de liderança no continente europeu.

A região central de Edimburgo viveu um dia de relativa tranqüilidade na véspera do encontro, contrastando com a tensão da segunda-feira. Na principal rua, a Princes Street, apenas as placas de madeira colocadas como proteção nas vitrines de algumas lojas e a presença de muitos policiais quebravam a rotina dos escoceses.

Mas a presença de três ativistas algemados sobre um guindaste no centro serviu como um alerta de que os manifestantes poderão surpreender os mais de 10 mil policiais destacados para a segurança do evento, interrompendo até mesmo as vias de acesso a Gleneagles.

As autoridades reforçaram ainda mais o policiamento, mas vão permitir que uma manifestação pacífica, com no máximo 5 mil pessoas, seja realizada amanhã na cidade de Auchterarder, nas proximidades do Hotel Gleneagles, que foi isolado com aproximadamente 15 quilômetros de cercas de aço.

A própria polícia admite que dificilmente a participação na passeata se limitará a esse número, ainda mais após o músico e ativista Bob Geldof ter reiteradamente pedido, durante os concertos do Live8, a realização de uma "passeata de um milhão" contra a pobreza em Edimburgo.

Num sinal de preocupação do que pode ocorrer amanhã, Geldof enfatizou que qualquer manifestação tem de ser pacífica, focada nos temas que serão debatidos pelo G-8 e criticou duramente os ativistas que promoveram atos de violência na segunda-feira. "Foram atos desnecessários e estúpidos que precisam ser condenados", disse Geldof. "Isso não vai afetar as decisões dos oito homens na reunião."

No campo político, Blair procurou rebater as críticas feitas por diversas ONGs, que sustentam que o G-8 deverá simplesmente repetir os erros do passado, formulando apenas promessas de ajuda financeira.