Título: Crise política derruba a confiança dos consumidores
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

A turbulência política afetou a confiança dos consumidores, que consideram a situação econômica do País pior do que há seis meses e estão pessimistas com relação ao semestre seguinte. Na Sondagem de Expectativa do Consumidor de junho, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 36% dos entrevistados avaliaram que a situação atual é pior do que há seis meses. O porcentual é o maior registrado desde abril de 2004 (40,9%), quando houve a crise deflagrada pelo escândalo Waldomiro Diniz. Os juros altos e a conseqüente desaceleração econômica são outros motivos apontado para a deterioração na expectativa dos consumidores. O economista Aloisio Campelo, responsável pela Sondagem, disse que a confiança "caiu consideravelmente" e sua recuperação vai depender diretamente do andamento da crise política e do comportamento da economia.

"A crise política já começou a afetar a confiança do consumidor, sem dúvida", afirmou. No caso da expectativa da situação econômica para os próximos seis meses, em relação ao momento atual, o porcentual dos que acreditam que estará pior subiu de 16,2% em maio para 20,1% em junho - o mais alto desde julho de 2004. A pesquisa da FGV foi realizada em 1.464 domicílios em 12 capitais, entre os dias 1º e 20 de junho.

Para o economista Fernando Holanda, convidado pela FGV para acompanhar a divulgação da pesquisa, a política monetária também foi fator importante para derrubar o otimismo do início do ano. "Esses fatos todos (queda da confiança) mostram que o fato relevante deste ano é a política monetária. Os dados da pesquisa mostram que há arrocho no Produto Interno Bruto e no emprego e o consumidor sentiu isso."

FINANÇAS

O equilíbrio financeiro das famílias caiu em junho, segundo a Sondagem. O balanço da finança familiar mostra que o porcentual dos que responderam que, comparando receitas e despesas, a situação está equilibrada caiu de 60,3% em maio para 56,8% em junho - o menor desde outubro de 2003 (54,4%).

O porcentual dos consumidores que responderam que a família está endividando também subiu, de 25,9% em maio para 29,5% em junho. Para Campelo, o aumento dos que estão endividados é mais um sinal de elevação de inadimplência do que de aumento do consumo. Além disso, subiu o porcentual de consumidores que acreditam que os gastos com bens de alto valor (duráveis, como eletrodomésticos e automóveis) serão menores nos próximos seis meses do que foram nos seis anteriores. Em junho, o porcentual foi de 52,9%, ante 50,4% em maio.

Na contramão dos dados negativos, os consumidores pessimistas esperam encontrar uma vaga no mercado de trabalho. Segundo a Sondagem, o porcentual dos que acreditam que "conseguir trabalho nos próximos seis meses em relação às condições atuais" será mais fácil subiu para 10,2% em junho, ante 6,3% em maio.

Campelo disse que os dados devem ser interpretados apenas "como uma acomodação após uma queda muito forte", em um patamar que ele ainda considera pessimista. Em janeiro, por exemplo, o porcentual dos que acreditavam que conseguir trabalho seria mais fácil era de 14%. Em julho de 2004, era de 11,7%. Não há comparação com junho de 2004 porque a sondagem era trimestral até julho do ano passado e só passou a ser divulgada mensalmente a partir daí.