Título: Estrangeiros evitam Bolsa com medo da turbulência
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Economia & Negócios, p. B5
A crise política já causa impacto nos investimentos estrangeiros no mercado de capitais. Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) divulgou que encerrou junho com um saldo positivo de capital estrangeiro - entrada menos saída - de R$ 354,2 milhões. Resultado: R$ 498,8 milhões de saldo no primeiro semestre, número bem acanhado diante dos R$ 5 bilhões de saldo positivo do primeiro trimestre, quando empresas de capital aberto ainda alimentavam expectativas de retomada de vendas no mercado interno e juros menores. Mesmo que o número de junho tenha sido, porém, bem melhor que o dos últimos três meses, quando o saldo chegou a ficar negativos porque muitos investidores realizaram lucro e partiram, ele demonstra que há uma preocupação quanto aos desdobramentos políticos, segundo a economista Rachel Fleury, da Tendências.
"O investidor estrangeiro é muito vulnerável a rumores, mesmo que eles não encontrem respaldo nos números da Bolsa". Ela explica: "Hoje, em dólar, a Bovespa apresenta 10.400 pontos, que é a mesma pontuação da Bolsa de Nova York e, no mês passado, chegou a apresentar 10.800, ficando acima dos números americanos, mas esse investidor teme que mudanças no cenário político possam trazer mudanças e foge". Essa pontuação, explica, é obtida por meio da divisão do índice Bovespa, que fechou ontem a 24.674,77 pontos, pela cotação do dólar.
"O problema é que nas últimas duas semanas, o índice Bovespa vem lutando para se manter no patamar próximo de 25 mil, mas tem oscilado com muita freqüência, na expectativa da CPI dos Correios", diz Rachel, lembrando que ontem esse índice chegou a retroceder 369,76 pontos.
O grande desafio é que, mesmo tendo estimulado investimentos domésticos nas ações de empresas, a Bovespa ainda tem uma forte dependência de capitais estrangeiros. Em junho, esses investidores lideraram as aplicações respondendo por 31% de participação em relação a 31,5% em maio, enquanto os investidores institucionais, responderam por fatia de 27,2% este mês, seguidos de pessoas físicas, com 25,2% e instituições financeiras com 14,3%. As próprias empresas, que recompram ações, responderam por 2,1% dos negócios.
Os dados revelam ainda que o pregão viva-voz perde cada vez mais espaço. Ele respondeu só por 3,99% do movimento no semestre ante a 96,01% pelo sistema eletrônico.