Título: Nos Correios, R$ 6 bilhões em contratos sob suspeita
Autor: João Domingos Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A4

Jefferson: O Marcos Valério pediu que eu influenciasse na operação de transferência de US$ 600 milhões de uma conta do IRB num banco da Suíça para o Banco Espírito Santo, em Portugal. (...) Eu cheguei a telefonar depois para o Genoino e dizer: "Esse cara é doido, ele acha que dinheiro dá em árvore".

Eduardo Paes (PSDB-RJ, mais tarde): O senhor poderia detalhar melhor aquele encontro com o Valério?

Jefferson: Foi no início de abril. No dia 26, 28 de março, tive um jantar em minha casa com o Genoino, o Delúbio Soares, o Emerson Palmieri e o José Múcio. Cobrei do Genoino uma solução para as contas do PTB, porque estávamos devendo muito (...) (O Delúbio) marcou a conversa com o Marcos Valério. O Valério me encontrou e disse que era para eu ajudar a tirar US$ 600 milhões que o IRB tem depositados no exterior, não sei se na Inglaterra ou na Suíça, e transferir para o Banco Espírito Santo, de Portugal.

Paes: Por que o Banco Espírito Santo?

Jefferson: Porque o Espírito Santo tem interesses no Brasil.

Paes: Quais?

Jefferson: Não sei. O Valério fez umas contas e disse que se isso fosse feito, sobraria muito dinheiro para o PT e o PTB.

Paes: Quanto?

Jefferson: Cerca de R$ 100 milhões.

A Controladoria-Geral da União (CGU) fechou ontem e enviou para a CPI dos Correios a primeira leva de contratos entre a estatal e fornecedores que estão sob investigação. Somando remessas anteriores, o pacote tem 90 contratos e, segundo o subcontrolador-geral da União, Jorge Hage, envolve cerca de R$ 6 bilhões.

Firmado entre os Correios e o consórcio BR Postal, que representa nove empresas, seis delas nacionais , o contrato para exploração do correio híbrido postal é financeiramente o mais importante: R$ 4,3 bilhões. Esse valor não estava incluído no levantamento divulgado no início da semana pelo ministro Waldir Pires, que estimou em R$ 1,3 bilhão os contratos suspeitos.

Hage explicou que os 90 contratos ainda estão sob investigação na CGU, sem uma conclusão sobre as suspeitas de ilegalidade. A decisão de enviá-los agora se deu por pressão de parlamentares da oposição.

As investigações da CGU têm por base o cruzamento de informações retiradas da fita em que o ex-chefe do Departamento de Compras e Administração de Material Maurício Marinho fala sobre um esquema de corrupção nos Correios com denúncias que têm chegado por meio de servidores indignados com o caso. Embora Marinho tenha dito que as declarações existentes na gravação não passaram de "bravatas", a CGU encontrou fundamento em praticamente todas as afirmações relacionadas a contratos e fornecedores.

CALHAMAÇO

No total, a CGU investiga mais de 600 documentos, entre licitações e contratos. Para facilitar a apuração, os auditores selecionaram o calhamaço pelo conteúdo da gravação e a relevância financeira. "Isso não significa que os outros não serão apurados. A prioridade é a denúncia da fita e o volume de recursos", disse Hage.