Título: Saques coincidem com troca de partido
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A5

Foi entre agosto e outubro de 2003, quando Valério sacou R$ 6,4 milhões, que ocorreu a maior migração nas legendas Deputados que mudaram para partidos da base aliada entre 1.º de agosto e 31 de outubro de 2003* ALEXANDRE SANTOS (RJ): Do PSDB para o PP ARNON BEZERRA (CE): Do PSDB para o PTB DR. HELENO (RJ): Do PSDB para o PP FEU ROSA (ES) : Sem partido para o PP INALDO LEITÃO (PB): Sem partido para o PL JOÃO MENDES DE JESUS (RJ): Do PDT para o PSL JOÃO TOTA (AC) : Do PP para o PL JOVAIR ARANTES (GO): Do PSDB para o PTB LÚCIA BRAGA (PB): Do PMN para o PT LUIZ PIAUHYLINO (PE): Do PDT para o PTB OSMÂNIO PEREIRA (MG): Sem partido para o PTB PEDRO IRUJO (BA): Do PFL para o PL RICARDO RIQUE (PB): Sem partido para o PL ROMMEL FEIJÓ (CE): Do PSDB para o PTB SALVADOR ZIMBALDI (SP): Do PSDB para o PTB WAGNER LAGO (MA): Do PDT para o PP *Não foram computadas as mudanças para o PMDB, na época inchado pelo ex-governador Anthony Garotinho, que se transferira para a legenda e carregara cerca de 20 parlamentares MIGRAÇÃO INTENSA João Domingos BRASÍLIA

Os saques feitos pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural e no Banco do Brasil coincidem com o troca-troca partidário para PL, PTB, PT e PP, partidos da base aliada do governo. Segundo dados registrados no Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), Valério sacou entre entre agosto e outubro de 2003 R$ 6,4 milhões. Neste período, ocorreu a maior migração partidária registrada nas legendas.

Valério é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o responsável pela distribuição do mensalão, mesada de R$ 30 mil ou mais, que seria paga a parlamentares aliados para que votassem com o governo.

Conforme dados da Câmara, as bancadas dos quatro partidos ganharam mais 16 integrantes. O PTB de Jefferson foi o que mais cresceu. Recebeu 6 dos 16 que mudaram, sendo que 4 saíram do PSDB. PP e PL abrigaram 4 cada um. O PT ganhou apenas 1, a deputada Lúcia Braga (PB), eleita pelo PMN. O PSL, que forma bloco com o PL, ganhou 1 parlamentar, João Mendes (RJ).

O crescimento dos partidos aliados continuou nos meses seguintes. O PL, que elegeu apenas 26 em 2002, chegou a 52; o PTB, que também conseguiu eleger 26, hoje tem 47. O PP, que na eleição conseguiu 49 cadeiras, hoje está com 55. Com as investidas, PSDB e PFL encolheram muito. Os tucanos chegaram a 70 na eleição. Hoje, têm apenas 50. O PFL, que elegeu 84, está com 58. Foi exatamente nas bancadas destes dois partidos de oposição que houve maior investida dos governistas.

O troca-troca, entretanto, não ficou só nos partidos fiéis ao governo. No mesmo período foi registrado grande crescimento do PMDB, inchado pela chegada do ex-governador Anthony Garotinho, que deixava o PSB, e levava consigo pelo menos 15 parlamentares. Ele também pôs parlamentares no PSC. O PMDB elegeu 75 deputados. Hoje está com 85.

No período de maior migração partidária, as queixas dos dirigentes do PFL e do PSDB voltaram-se para o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Quando o líder tucano Arthur Virgílio (AM) soube que o governo cooptara Osmânio Pereira (MG) e Salvador Zimbaldi (SP), correu ao diretório e conseguiu expulsá-los antes que pedissem para sair.

Jefferson diz que Dirceu comandava todo o processo de troca. O presidente do PPS, Roberto Freire (PE), rompeu com o governo depois de denunciar tentativa de inchaço forçado em seu partido, sob o comando do Planalto. Freire também acusou o PT de avançar sobre seus quadros, como Raul Filho, prefeito de Palmas (TO).