Título: Empresas usam cabras na ajuda ao Nordeste rural
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2005, Economia & Negócios, p. B16

Em cidades do interior do Ceará, muitas famílias do meio rural só conseguem ter uma fonte fixa de renda durante um período de 90 dias por ano - a época da colheita do caju. No resto do ano, durante a entressafra, sobrevivem com o que sobra da renda mensal de meio salário mínimo obtida no período e com culturas alternativas, como milho e feijão. Aos poucos, a realidade dessas famílias passa a ser modificada por empresas que já direcionam ações e recursos para essas regiões, dentro de estratégias de responsabilidade corporativa. É o caso da Kraft Foods Brasil, gigante do setor alimentício, que vai beneficiar 150 famílias de catadores de caju com a doação de cabras. O projeto social será lançado hoje, em Aracati, a 150 quilômetros de Fortaleza, onde a Kraft mantém uma unidade de produção de polpa de caju, e foi proposto pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), que se encarregará de prestar assistência às famílias.

Com um investimento pequeno - da ordem de US$ 5 mil com a compra dos animais -, a empresa pretende estimular uma fonte alternativa de renda e de nutrição para as famílias. A Ematerce estima que, com as cabras, as famílias poderão ter um incremento de até 60% em seus rendimentos, além de obterem o leite como um complemento alimentar .

As cabras serão entregues já prenhes, e o conjunto das famílias receberá ainda cinco bodes, para cruzamento. Para receber as cabras, os produtores se comprometem a manter os filhos na escola e participar de treinamentos com técnicos da Ematerce. Em dois anos, os beneficiados deverão doar um animal para outra família, de modo que o projeto seja multiplicado na região - cada cabra pode gerar até quatro filhotes no período.

De acordo com o diretor de assuntos corporativos da Kraft Foods Brasil, Newton Galvão, a iniciativa deverá ajudar no desenvolvimento de Aracati. "Nossa proposta é eleger comunidades próximas a nossas unidades e ajudá-las a crescer, sempre com foco em nutrição e sustentabilidade", afirma. A mesma filosofia é mantida na região cacaueira do sul da Bahia, onde a empresa fomenta um projeto de alfabetização de jovens e adultos, em parceria com a ONG Care Brasil. No ano passado, o projeto recebeu US$ 41 milhões.

A idéia de usar a ovinocaprinocultura - criação de ovelhas e cabras - na promoção do desenvolvimento das comunidades rurais no interior do Nordeste começa a ser estruturada em outro projeto, idealizado pelo Banco do Brasil e sua Fundação. Atualmente em fase de formatação, o projeto será centralizado no município de Quixadá, um dos principais pólos de criação desses animais no Ceará, e prevê a estruturação das cadeias produtivas de leite e carne como um todo.

O projeto está inserido no âmbito das ações estruturais de apoio ao Programa Fome Zero, do governo federal, e utilizará recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), cuja dotação orçamentária para o período 2005/2006 é de R$ 9 bilhões. "Vamos integrar a oferta de recursos federais com iniciativas de desenvolvimento sustentável que já vêm sendo feitas pela Fundação", explica Jacques Pena, presidente da Fundação BB.

A Fundação BB vem atuando na estruturação das cadeias produtivas da cajucultura, mandiocultura e apicultura no interior do Nordeste. No caso da ovinocaprinocultura, a intenção é capacitar o pequeno produtor rural para as exigências do mercado, com a implantação de fazendas-modelo para a criação de animais e de unidades agroindustriais para o abate e processamento do leite, pele e carne.