Título: Patrimônio de Valério cresceu 60 vezes em 7 anos
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A6

Segundo delegado encarregado do inquérito, Polícia Federal já tem elementos para indiciar publicitário por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal

A Polícia Federal já tem elementos para indiciar o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, segundo informou ontem o delegado Luiz Flávio Zampronha, encarregado do inquérito. Dados da Receita Federal, revelados ontem no programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, mostram que o patrimônio de Valério aumentou mais de 60 vezes em sete anos. Em 1997, ele declarou patrimônio de R$ 230 mil, que subiu para R$ 3,8 milhões em 2002 e para R$ 14 milhões em 2004. "Impressiona o faturamento de R$ 400 milhões ao ano que ele diz ter recebido nos últimos anos", observou Zampronha. O cruzamento de dados bancários e fiscais das empresas do publicitário, que ainda está sendo concluído, poderá torná-lo réu em pelo menos mais dois outros processos, por corrupção e enriquecimento ilícito. "Há muitas contradições no depoimento dele e as investigações estão trazendo novos dados comprometedores", disse Zampronha.

Valério é investigado por suspeita de ser o homem que financiava o mensalão, que, segundo denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), seria uma espécie de mesada paga a parlamentares da base aliada para votarem nos projetos do governo.

O delegado já requisitou os dados da Receita para anexar aos autos. Os contratos de publicidade do empresário com a Administração Direta da União e empresas estatais estão sendo submetidos a um pente fino. Ele é sócio controlador das agências DNA e SMPB, as que mais cresceram no governo Luiz Inácio Lula da Silva. As duas agências controlam as verbas publicitárias de cinco Ministérios e de oito grandes empresas públicas, entre as quais os Correios.

Os movimentos do empresários e de seus assessores, incluindo viagens aéreas, hospedagens em hotéis e reuniões com pessoas do governo, também estão sendo vasculhados, tanto em Belo Horizonte, onde ele morava, como em Brasília, para onde ele se deslocava com freqüência. As investigações têm como base a agenda da ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio, além das informações que ela deu à CPI dos Correios, à polícia e ao Ministério Público e também a denúncia de Jefferson de que Valério seria o principal operador do mensalão, a serviço do PT.

Entre julho de 2003 e maio de 2005, Valério sacou R$ 20,9 milhões em espécie na boca do caixa do Banco Rural, além de uma pequena quantia no Banco do Brasil. No mesmo período, ele movimentou pelo menos outros R$ 40 milhões, segundo levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Zampronha considera os saques em espécie mais importantes, do ponto de vista criminal, do que a movimentação financeira, que não necessariamente estaria orientada para fins ilícitos.

FURNAS

A Polícia Federal abriu ontem mais um inquérito a partir do escândalo dos Correios, desta vez para investigar a denúncia de Jefferson de que a Centrais Elétricas de Furnas, estatal subordinada à então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, participava do financiamento do mensalão com uma fatia de R$ 3 milhões por mês. Os outros três inquéritos relacionados investigam: fraudes nos contratos dos Correios; fraudes nos contratos do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB); e o último, a origem e o destino do dinheiro de Valério.

Zampronha informou ainda que vai convocar para depor o procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, citado várias vezes na agenda de Karina. Valério disse à PF e à CPI que Guedes era seu cliente em haras de sua propriedade e que freqüentava muito local para treinos, mas a PF não se convenceu da versão.