Título: 'Roubaram nossas assinaturas, pintaram e bordaram'
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A8

Agricultora que assinou procuração se revolta ao saber que seu nome foi usado numa fraude e diz que foi enganada B.T. SÃO DESIDÉRIO Envolvida numa trama que não tinha a menor condição de perceber, e da qual se aproveitaram diretores da agência DNA Propaganda, a aposentada Laurita Maria da Conceição Araújo, de 72 anos, ficou revoltada, ontem, ao tomar conhecimento de que seu nome foi usado para praticar uma fraude.

Analfabeta, deficiente física, ela sobrevive com aposentadoria de R$ 290 em uma casa humilde na periferia de São Desidério, e diz ter recebido "uns 500 cruzeiros" para assinar alguns papéis que lhe foram levados por um advogado em janeiro de 2002.

Seu marido, Aristóteles Gomes de Araújo - para ela, Aristote -, morreu em 1999, antes da venda das terras. No cartório de imóveis da cidade consta que as fazendas Bom Jesus I e II foram depois vendidas para a DNA. Valor da transação: R$ 200 mil.

Segundo ela, depois de a terem feito assinar um papel, voltaram do Fórum avisando que o papel anterior não havia servido e lhe pediram para assinar outro. "Não sei de nada, sou boba, a idéia é pouca", disse ela sobre o episódio. A corregedoria do Tribunal da Justiça da Bahia está investigando essa e outras irregularidades que teriam sido cometidas pelo cartório de imóveis da cidade - conhecida por ter o que a juíza Karla Moreno Gregoretti chama de "terras de 2.º andar" - situação em que há muito mais documentos do que terras de verdade.

A senhora foi dona das Fazendas Bom Jesus I e II?

Não, meu falecido marido era dono de um mirréis (sic) de terra, coisa pequena, lá pelos lados da Fazenda Barra, que recebeu de herança.

A senhora e seu marido assinaram uma procuração em nome de José Paixão?

Esse senhor apareceu aqui antes do meu marido morrer, com uma conversa de que queria vender o mirréis(sic) de terra e pediu para eu e ele assinar um papel em branco e nós assinamos. Quando o Aristote já tinha morrido, depois de setembro de 1999 ele voltou com conversa enrolada, dizendo que as assinaturas não haviam prestado e pedindo para eu assinar de novo. Depois apareceu com um troquinho, pouco dinheiro, uns 500 cruzeiros. Disse que iria trazer mais, mas não voltou.

O que fez com o dinheiro?

Paguei umas contas e comi (comprou comida), mas acabou rapidinho.

Acha que foi enganada?

Ele me enganou e enganou meu marido. Somos analfabetos, não entendemos muito dessas coisas. Roubaram nossas assinaturas e pelo que estou vendo pintaram e bordaram.