Título: Afastado o procurador suspeito de elo com Valério
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Nacional, p. A9

Glênio Guedes é acusado de favorecer diretor do Banco Rural num processo e de ter passagens aéreas, diárias de hotéis e conta de celular pagas pela agência SMPB Renata Veríssimo BRASÍLIA A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) afastou ontem do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, chamado de conselhinho, o procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes. Ele é acusado de favorecer o diretor do Banco Rural, José Augusto Dumont, em processos julgados pelo órgão, além de ter passagens aéreas, diárias de hotéis e a conta de seu celular custeadas pela agência de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza, a SMPB. O publicitário é apontado como responsável pelo pagamento de mensalão a parlamentares da base aliada. Segundo o Ministério da Fazenda, será aberta uma sindicância para apurar as denúncias, no prazo 60 dias a partir da publicação da decisão.

Na agenda de compromissos de Marcos Valério, referente a 2003, e entregue à CPI dos Correios pela sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, aparecem os vínculos de Guedes com o publicitário. São anotações de pedidos de compras de passagens e reservas de hotéis para ele, além de cópias de vauchers com essas reservas. Guedes aparece citado pelo menos dez vezes. Um dos vauchers mostra que ele tinha uma reserva para ficar hospedado no Hotel Mercure, em Brasília, com entrada prevista para o dia 26 de agosto e saída para o dia seguinte, com uma diária de R$ 146.

Guedes foi convocado ontem pela PGFN para prestar esclarecimentos. O procurador, que mora no Rio, esteve em Brasília e foi notificado para prestar formalmente os esclarecimentos sobre as supostas irregularidades.

Ele foi indicado para o conselhinho em 1998 e, segundo a procuradoria, não há nada até o momento que o desabone. No entanto, "por dever de cautela", a PGFN decidiu afastá-lo das atribuições junto ao conselhinho e determinou que devolva os processos que estão com ele. Um novo procurador será indicado para substituí-lo.

Segundo as denúncias, entre os processos analisados estão casos envolvendo o diretor do Banco Rural que também teria envolvimento com Marcos Valério. Em agosto de 2003, o órgão aceitou recurso apresentado pelo Banco Rural e retirou a punição de afastamento por rês anos do cargo contra Dumont. Glênio Guedes não teria participado do julgamento mas, no dia, estaria hospedado em São Paulo, no mesmo hotel que o publcitário Marcos Valério.

O Ministério da Fazenda esclareceu que a função do procurador no conselhinho é dar parecer jurídico sobre os processos e que ele não tem direito a voto. Segundo a PGFN, o parecer do processo envolvendo o diretor do Banco Rural teria sido assinado por outro procurador, que também atua no órgão, instância administrativa para recorrer de multas e punições aplicadas pelo Banco Central.