Título: DNA usou esquema do Banestado para remessas
Autor: Sheila D'Amorim e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Nacional, p. A4

A DNA Propaganda, uma das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, fez até 2002 remessas de até US$ 1 milhão ao exterior por meio de doleiros e da conta Beacon Hill, apontada como uma das maiores lavadoras de dinheiro do esquema Banestado. A informação foi dada ontem pelo senador Álvaro Dias (PSDB), da CPI dos Correios, durante o depoimento de Valério. O senador disse que as informações sobre as transferências - segundo ele, ao todo foram 50 remessas - estão em poder do Ministério Público Federal no Paraná, que apura o esquema de envio ilegal de recursos pelo Banestado.

Em dezembro de 2003, a Polícia Federal, a pedido da CPI da Banestado, interrogou Valério sobre as remessas. O publicitário negou que a DNA fosse titular de conta no exterior ou tivesse enviado dinheiro para fora do País por doleiros. Admitiu apenas transferências para Nova York para pagamento de mídia internacional em revistas americanas. O valor das remessas variaria, segundo ele, entre US$ 5 mil e US$ 10 mil.

Ontem, questionado por Dias durante o depoimento à CPI dos Correios, Valério voltou a negar contas no exterior e a reafirmar a versão sobre as remessas para pagamento de mídia internacional, em torno de US$ 7 mil. No entanto, segundo Álvaro Dias, há registros de transferências de até US$ 50 mil da DNA para a Beacon Hill.

Os dados em poder do MPF, ressaltou o senador, derrubam a explicação do empresário sobre o envio de recursos o exterior para despesas normais de agências de publicidade. A maioria das remessas, entre US$ 750 mil e US$ 1 milhão, teriam ocorrido em 2001 e 2002.

DOLEIROS

A Beacon Hill, cuja tradução literal é "colina do farol", foi uma conta-ônibus no banco J.P. Morgan, em Nova York, usada por doleiros brasileiros para administração e o repasse de remessas ilegais. Funcionava como intermediária na abertura de outras contas em paraísos fiscais e por ela teriam circulado cerca de US$ 10 bilhões.

A Beacon Hill Service Corporation foi descoberta pelo promotor distrital de Manhattan Robert Morgenthal. De posse das informações, a Polícia Federal deflagrou, no ano passado, a Operação Faroleiro, que levou à prisão dezenas de doleiros.

No depoimento à PF em outubro de 2003, Valério foi questionado sobre o doleiro Fayed, mas declarou desconhecê-lo. Alegou, ainda, que a DNA só faria operações de pagamento fora da rede bancária a gráficas e mediante cheque. Essa versão, como mostrou o relatório do Comitê de Controle de Atividade Financeira (Coaf) sobre os saques em dinheiro vivo feitos pela DNA e pela SMPB, era falsa.