Título: CPI procura vínculos com Lula
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Nacional, p. A5

"Não sei", respondeu o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza quando indagado na CPI dos Correios se contratou "algum parente" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para trabalhar em uma de suas empresas - a Estratégica Marketing Promoções - para fazer campanhas eleitorais do PT. Foi a primeira vez que a CPI apontou sua investigação para eventual ligação entre o suposto operador do mensalão e o presidente da República. A pergunta foi feita pelo deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) depois que o publicitário declarou ter criado uma empresa para as campanhas do partido de Lula.

Valério informou ter cuidado das campanhas municipais do PT em Petrópolis (RJ), Osasco e São Bernardo do Campo. Para isso criou a Estratégica, em sociedade com Marcio Hiram Guimarães Novaes, que cuidava das contas em Brasília da DNA Propaganda. Diante da evasiva do publicitário, quando questionado sobre contratação de familiares de Lula, o deputado insistiu, sem citar nome. "Contratou o filho do presidente?" Valério repetiu. "Não sei."

A oposição recebeu com desconfiança a resposta do publicitário por entender que não é plausível alguém esquecer se contratou ou não algum parente do presidente. A investigação deverá esmiuçar os contratos da Estratégica com os candidatos do PT para as prefeituras. A meta é identificar quem foi pago pelos serviços e se houve terceirização.

Lula tem três filhos do casamento com Marisa (Sandro Luís, Fábio e Luiz Claudio), além de Lurian, que vive em Santa Catarina, e de um enteado, Marcos. "Não sei se algum filho do Lula trabalhou na campanha, só se foi na militância", disse o deputado Vicentinho Paulo da Silva (PT-SP), candidato derrotado à prefeitura de São Bernardo. "Vai ver que distribuiu panfletos, mas sem remuneração. Não lembro se foi no comitê, não posso dizer. Eles são filiados ao PT de São Bernardo, devem ter participado como militantes."

Vicentinho declarou que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares indicou a empresa de Valério. "A gente precisava de uma assessoria, e o Delúbio nos apresentou (a empresa de Valério), eles nos fizeram a proposta de trabalho", disse o deputado, que perdeu já no primeiro turno para William Dib (PSB). Nelson Banhara, tesoureiro da campanha de Vicentinho, disse que foram pagos R$ 20 mil à Estratégica.

O secretário de Governo e Comunicação de Osasco, Gelson Aparecido, informou que o contrato com a empresa de Valério para a campanha do prefeito Emídio de Souza (PT), eleito em 2004, custou R$ 140 mil. Ele disse que a Estratégica foi indicada pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara.