Título: Empréstimos ao PT derrubam 2 dirigentes do Banco do Brasil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Nacional, p. A9

As denúncias de favorecimento do Banco do Brasil ao PT provocaram ontem mais mudanças no alto escalão do governo, com a exoneração dos vice-presidentes de Finanças do banco, Luis Eduardo Franco de Abreu, e de Varejo, Edson Monteiro. As demissões, segundo apurou o Estado junto a uma fonte da área econômica, dão início a um processo de despartidarização do Banco do Brasil, que poderá alcançar outras áreas, como a de publicidade. As mudanças anunciadas ontem têm como causa mais recente os empréstimos ao PT que, se cumpriram as exigências legais, não conseguiram convencer do ponto de vista ético. Segundo a fonte, as duas perguntas que a direção da instituição não conseguiu responder são: por que e para que o Banco do Brasil emprestou 20,6 milhões ao Partido dos Trabalhadores, que sustenta politicamente o governo? A área técnica do banco tem explicações legais que a exime de qualquer condenação pelo empréstimo. Do ponto de vista técnico, a operação foi legal, dentro das normas bancárias, auditada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Mas não escapam ao crivo ético, uma vez que o PT é o partido no governo federal.

No contexto da despartidarização, a ordem agora é a de retomar os critérios de mercado para a nomeação e permanência em cargos. O primeiro alvo, nessa nova ordem, é o petista Geraldo Magela, que ocupa a presidência do Banco Popular, depois de aguardar por mais de um ano uma compensação do PT pela derrota sofrida na disputa pelo governo do Distrito Federal, para Joaquim Roriz (PMDB).

Magela, segundo a fonte do Estado, terá agora um prazo para mostrar "competência gerencial". Sua função no banco é considerada importante, por presidir uma subsidiária da instituição. Pode ser que Magela, se não vier a apresentar resultados concretos, opte por compor a lista de demissionários do governo que se candidatarão às próximas eleições.

A nomeação de Magela é sempre vista pelos meios políticos como um símbolo da política petista de "aparelhamento do Estado" - por lhe ter sido prometido qualquer cargo, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicamente, tão logo eleito. Sua nomeação foi questionada pela evidência da aplicação do critério político.

Das sete vice-presidências, duas eram ocupadas por petistas e as demais por funcionários de carreira. O vice-presidente de Finanças, Luis Eduardo Franco de Abreu, era um desses casos partidários. Ex-presidente do Banco Regional de Brasília na gestão de Cristovam Buarque no governo de Brasília, Abreu será substituído por Aldo Luis Mendes, funcionário com 25 anos de BB e doutor em economia.

A outra vice-presidência petista é a de Tecnologia, ocupada por Luis Cerqueira César, que, embora vindo do mercado, pode perder o cargo pelos seus vínculos partidários.

CARREIRA

As mudanças foram anunciadas ontem pelo presidente do banco, Rossano Maranhão Pinto, e aprovadas pelo presidente do Conselho de Administração do BB, Bernardo Appy, secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda.

Para o lugar de Edson Monteiro foi Antônio Francisco Lima Neto, que ocupava interinamente a vice-presidência de Atacado e Internacional, cargo já ocupado pelo atual presidente do banco.

Neto é economista, tem 26 anos de banco e foi substituído, interinamente, na diretoria de Atacado e Internacional pelo também funcionário de carreira da instituição José Maria Rabello.

Embora as vice-presidências do BB possam ser ocupadas por pessoas de fora do quadro, o atual presidente do banco preferiu indicar para as vagas apenas funcionários de carreira, como ele.

A decisão técnica foi acatada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. É privativo dos funcionários da instituição todos os cargos de carreira do Banco do Brasil, inclusive os de diretores, logo abaixo das vice-presidências.