Título: Mentor é acusado de operar mensalão na Câmara de SP
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Nacional, p. A9

O tesoureiro do PPS paulistano, Rui Vicentini, apresentou ontem ao Ministério Público Estadual o nome de dois doleiros e quatro empresas de câmbio e turismo que seriam responsáveis por lavar dinheiro para o PT no pagamento do mensalão municipal. E jogou mais lenha na fogueira. De acordo com Vicentini, o deputado José Mentor (PT-SP) foi o responsável pela criação do mensalão, em São Paulo, durante o governo da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) - na época, Mentor era vereador e líder do governo na Câmara. Em seu depoimento ao MP, Vicentini afirmou: "O ex-líder do PT, José Mentor, hoje deputado, era encarregado de aliciar os vereadores na Câmara Municipal para o esquema." E prosseguiu: "Dessa forma criou-se um ordenado extra para os vereadores, denominado mensalão."

Os doleiros citados pelo tesoureiro são Richard Andrew de Mol Van Otterloo e Raul Henrique Sraur - ambos investigados pela CPI do Banestado, da qual Mentor foi relator. As empresas são: Avenca Viagens e Turismo, KLT Agências de Viagens, Apollo Câmbio e Turismo e Lumina Empreendimentos. Mentor seria o contato entre o PT e essas empresas.

O tesoureiro apontou ainda o ex-vereador Raul Cortez, ex-PPS, como um dos beneficiados com a suposta mesada. "Não tinha um valor fixo. As quantias eram acertadas com os vereadores conforme os projetos."

As denúncias foram comunicadas ao diretório nacional do PPS em janeiro deste ano, conforme cópias de e-mails entregues ontem ao promotor Antonio Celso de Oliveira Faria, que apura o suposto esquema em São Paulo.

O caso veio à tona no mês passado, quando o secretário-geral afastado do PT, Sílvio Pereira, e o ex-secretário de Comunicação de Marta Valdemir Garreta foram acusados de oferecer R$ 4 milhões ao PPS municipal em troca de apoio à candidatura pela reeleição da ex-prefeita. A denúncia foi revelada em reportagem do Estado.

Vicentini foi um dos integrantes do PPS que teriam participado desse encontro. Ele forneceu novos nomes de testemunhas que teriam presenciado o encontro. Tanto Pereira como Garreta negam. O promotor disse que agora vai tentar cruzar as informações de Vicentini e ouvir os acusados.

DEFESA

Mentor negou todas as denúncias, por meio de nota. Afirmou não conhecer Vicentini. "É uma denúncia despropositada", diz ele, na nota. E acrescenta que "desconhece que houvesse qualquer pagamento de propina".

Garreta informou, também por nota, que as acusações não procedem. E acusou Vicentini de possuir dupla identidade e ter sido alvo de processos por contrabando e tráfico de drogas. Garreta moveu processo por danos morais, calúnia e difamação contra o tesoureiro.

Cortez também negou que tenha sido beneficiado pelo PT e disse que Vicentini terá de provar o que fala. Ele acionará o tesoureiro na Justiça.

Os dois doleiros e as empresas citadas não foram localizados pela reportagem para comentar as acusações.