Título: Genoino quer sair, mas PT não consegue substituto
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Nacional, p. A10

O presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou ontem que está disposto a entregar o cargo no sábado, logo no primeiro dia da reunião do diretório petista. Em conversa reservada com amigos, Genoino desabafou: disse que só ficará à frente do PT se o diretório nacional - instância máxima de deliberação do partido - fizer um gesto concreto de apoio a ele. O desfecho da crise é imprevisível porque o Campo Majoritário, que havia apostado todas as fichas para reeleger Genoino, em setembro, entrou em pane política. Agora, moderados começam a se movimentar para evitar uma derrota que consideram ainda pior: a de perder o comando do partido para os radicais. No governo e no Congresso, nenhum nome de peso do Campo Majoritário - corrente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PT - quer descascar o abacaxi petista e substituir Genoino em meio ao terremoto do mensalão.

"Só se for uma conspiração para me matar", afirmou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), logo depois de ver seu nome citado na TV. A vice-presidente do PT é a ex-prefeita Marta Suplicy, que é pré-candidata ao governo paulista, como Mercadante. Marta não quer ocupar a cadeira que hoje está sob fogo cruzado. Pior: seus adversários no PT acham que ela não conseguiria controlar nem por um dia o cipoal de tendências do partido.

O secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci, também rejeita a hipótese de voltar para a executiva, pois teria de se desligar do governo. Dulci defende uma "recomposição" da cúpula partidária, mas com a manutenção de Genoino. Outro que não pretende deixar o Planalto para se dedicar em tempo integral ao PT é Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais. "Do ponto de vista do coração não gostaria que o Genoino saísse. Do ponto de vista da cabeça ainda não tenho isso claro. Essa é uma questão que ainda tem de ser muito bem discutida", afirmou.

Mesmo o ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) - que defende publicamente a licença de Genoino - disse ontem que não planeja assumir o comando do partido agora. "Fico feliz se ninguém propuser o meu nome", comentou, embora muitos de seus companheiros digam o contrário, chamando-o de "oportunista". Deputado licenciado, Berzoini pode ser defenestrado na reforma ministerial e retornar à Câmara.

Apesar de ressalvar que confia em Genoino, Berzoini insiste em que ele deve afastar-se para fazer sua defesa e preservar a imagem da instituição. "O PT não é uma quitanda, não é uma empresa. Tem responsabilidade política. É a velha história da mulher de César: não basta ser honesto, tem que parecer honesto", observou.

É por comentários assim que Genoino tem dito que deixará a direção do PT. Apesar de Lula lhe ter pedido para "segurar o tranco", ele acha que sua permanência no cargo é um custo político muito alto para sua biografia.