Título: G-8 começa com pressão sobre EUA
Autor: João Caminoto e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Internacional, p. A14

O primeiro dia da reunião do G-8 foi marcado por uma forte pressão sobre o presidente George W. Bush para que os EUA mudem sua posição em relação à questão do aquecimento global, um tema que será debatido hoje e cujo progresso determinará o sucesso ou fracasso do evento. Enquanto os líderes iniciavam seus trabalhos nas cercanias do Hotel Gleneagles, manifestantes e policiais protagonizaram novas cenas de pancadaria que resultaram em prisões e feridos.

Vários líderes europeus ressaltaram que apóiam o Protocolo de Kyoto, o tratado patrocinado pela ONU que estabelece limites para emissões de gases. O tratado já foi ratificado por cerca de 150 países, mas não é reconhecido pelos EUA, que abrigam 4% da população mundial e são responsáveis por 36% de todo o dióxido de carbono produzido pela humanidade. "O tratado de Kyoto não é renegociável", disse o primeiro-ministro Tony Blair, que voltou a manifestar otimismo sobre o resultado final da cúpula do G-8.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, disse que já existem provas científicas suficientes de que a emissão de gases está alterando o clima do planeta. "Todos os grandes países desenvolvidos e em desenvolvimento precisam tomar as decisões certas para lidar com esse problema", disse Barroso.

Mas os sinais dados por Bush até agora indicam que os EUA não pretendem ceder de forma significativa. Ele admitiu que a superfície da terra está se aquecendo e a atividade humana contribui para agravar esse problema. Apesar disso, voltou a rechaçar o controle da emissão de gases. Para Bush, o desenvolvimento tecnológico é a melhor arma para combater a mudança climática. Ele acrescentou que os EUA estão comprometidos em intensificar o uso de fontes energéticas não poluentes: "Os EUA, por razões de segurança nacional e econômicas, precisa diminuir sua dependência de combustíveis fósseis."

A pressão sobre Bush em Gleneagles não se limita à questão ambiental. Outro ponto de discórdia é o tema comercial. Os líderes do G-8 também discutirão as negociações da rodada multilateral de comércio, que acontece no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Para Barroso, será difícil para o G-8 obter um progresso substancial nessa área, mas a Europa está fazendo a sua parte: "A União Européia mantém sua oferta feita no ano passado de eliminar todos os subsídios agrícolas, mas espera agora que ela seja acompanhada pelos outros parceiros relevantes."

O aumento da ajuda financeira à África também poderá aquecer o debate no G-8, pois a Casa Branca continua dando sinais conflitantes sobre o assunto. A UE anunciou que vai elevar de 700 milhões para 1 bilhão sua ajuda anual para estimular o comércio no continente africano. O músico e ativista Bob Geldof, organizador dos concertos do Live8, disse que Blair "tem o maior mandato democrático na História" para ajudar a África.