Título: Mercadante critica plano de Delfim
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

Apenas dois dos 37 participantes do jantar de terça-feira em que o deputado Delfim Netto (PP-SP) apresentou o seu plano de zerar o déficit nominal divergiram da proposta. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que não considera adequado incluir na Constituição a meta de déficit zero, embora seja favorável a que o governo trabalhe com metas fiscais de longo prazo. O deputado Sérgio Miranda (PC do B-MG) afirmou que o plano, se adotado, resultará em menos recursos para a área social. Os demais, principalmente os empresários, apoiaram o plano com entusiasmo, mas manifestaram dúvidas em relação à sua viabilidade política e acham que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia dar um sinal, durante a reforma ministerial, de que pretende caminhar na direção do ajuste proposto.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) elogiou a proposta, mas disse ser difícil acreditar na intenção do governo de realizar um "choque de gestão", como parte do plano de zerar o déficit nominal, pois essa proposta é contraditória com a prática do Executivo nos últimos meses. "Neste momento, o governo discute a reforma ministerial com o PMDB e o preenchimento de cargos sem preocupação com melhoria de gestão, apenas com o objetivo de ganhar apoio político", disse Tasso, segundo relato de pessoas presentes no jantar.

Em seguida, o senador afirmou que os ministros que estavam ali eram testemunhas do que ele estava dizendo. O ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Jaques Wagner, rebateu o senador tucano. "Não fale por mim, pois não concordo com o que o senhor está dizendo", afirmou. Mercadante também defendeu o governo.

Além de Wagner, estavam no jantar os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Delfim começou a apresentação procurando mostrar que a atual política econômica caiu numa armadilha, pois não é capaz de garantir um crescimento sustentado. "Essa política é uma bananeira que já deu cacho", disse. O deputado afirmou que é preciso fazer um ajuste fiscal que crie condições para a redução da relação dívida/PIB e a queda dos juros. Só com a queda dos juros, argumentou, será possível a retomada dos investimentos.

O ex-ministro argumentou que o plano criará as condições para a queda dos juros, desde que tenha credibilidade. Essa credibilidade, explicou, será conseguida pela introdução da meta de déficit nominal zero no texto constitucional e com a fixação de limites para os gastos públicos, também na Constituição. Ele procurou mostrar que a redução das vinculações orçamentárias dará os instrumentos indispensáveis ao governo para alcançar a meta.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, elogiou a proposta e chamou Delfim de "apóstolo da racionalidade". disse que o Brasil precisa de um novo ajuste fiscal, que seja produzido não pelo aumento de tributos, mas pelo corte nos gastos de custeio.

O empresário Jorge Gerdau também defendeu o choque de gestão. Ele considera que, se o governo adotar a medida, economizará recursos para ampliar os serviços à população.

Todas as ressalvas ao plano foram no sentido de que poderá resultar em redução de gastos na saúde e na educação, disse o deputado Roberto Brant (PFL-MG). Mas, para ele, isso não acontecerá porque não haverá corte adicional nas despesas.

Palocci lembrou que nem sempre a ampliação dos gastos traz benefícios para os mais pobres, porque podem levar ao desequilíbrio fiscal e a mais inflação. "Uma política social para valer é feita por meio do crescimento da renda e do emprego e não de transferência de recursos para as pessoas", afirmou.