Título: Sinais de desaquecimento industrial ficam mais fortes
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Os sinais de desaquecimento da atividade industrial se intensificaram em maio, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O câmbio valorizado e a alta das taxas de juros já vinham reduzindo o fôlego do crescimento industrial desde janeiro, mas em maio, pela primeira vez, alguns indicadores tiveram desempenho abaixo do registrado em 2004. Outro sinal de piora: o emprego na indústria interrompeu a trajetória de crescimento que já durava 18 meses. "Desde novembro de 2003, não se observava variação negativa em relação ao mesmo período do ano anterior", observou o economista da CNI, Paulo Mol. As vendas reais caíram 1,51% e a utilização da capacidade instalada ficou em 81,8%, uma queda de 0,3 ponto porcentual em relação a maio de 2004.

O nível de emprego ficou estável em relação a abril. "Essa estabilidade pode representar um ponto de inflexão. A nossa perspectiva é de estabilidade ou até de queda no emprego nos próximos meses", disse o economista. A desaceleração da atividade industrial já havia enfraquecido o ritmo de contratações. Em 2004, o emprego industrial cresceu, em média, 0,6% ao mês. No primeiro quadrimestre deste ano, o crescimento reduziu-se pela metade.

O coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, atribuiu o resultado de maio à alta dos juros (Selic) por nove meses consecutivos e à valorização de 21% do real ante o nos últimos 12 meses. Maio é um mês forte do ponto de vista da atividade industrial. Entretanto, os dados divulgados pela CNI mostram que a intensificação industrial aguardada pelo setor não ocorreu. Desconsiderando os fatores sazonais, os números foram negativos ou se mantiveram estáveis em relação a abril.

"A elevação dos juros só não foi mais danosa devido à ampliação de outras fontes de crédito, como o empréstimo consignado", afirmou Castelo Branco. "Mesmo com a interrupção da trajetória de alta em junho, os juros ficaram num patamar muito elevado."

A taxa de câmbio, segundo a CNI, também continua impactando negativamente no faturamento das empresas, o que explica a queda nas vendas reais em maio. Embora a produção esteja crescendo, a faturamento em reais é afetado pelo câmbio.

Os dados da CNI mostram que 30% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial é sustentado pelas exportações, que também correspondem a 22% do faturamento das grandes empresas. "A expressiva valorização do real está impedindo que o aumento da produção exportada gere expansão do faturamento, pelo menos não na mesma intensidade", disse Paulo Mol.