Título: Varig tem seu oitavo presidente em cinco anos
Autor: Alberto Komatsu e Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2005, Economia & Negócios, p. B14

A Varig trocou ontem de presidente-executivo pela oitava vez em cinco anos. Saiu Henrique Neves para dar lugar a Omar Carneiro da Cunha, até então vice-presidente do conselho de administração. A mudança já era dada como certa desde o fim de semana, quando Neves, que estava no cargo há apenas dois meses, confidenciou a amigos que estava descontente com sua função pois não participava das decisões mais importantes. Oficialmente, ele sai para se dedicar à reestruturação da empresa junto com a consultoria e o banco que deverão ser anunciados até amanhã. Cunha nega que a troca de comando na empresa tenha sido fruto de "rachas" entre o próprio conselho de administração ou com o conselho de curadores da Fundação Ruben Berta (FRB), grupo de representantes da controladora da Varig. Segundo ele, seu maior desafio será garantir a operação da empresa no dia-a-dia e acompanhar o processo de reestruturação, que terá de ficar pronto em até 45 dias. "Não há nenhuma desavença. Nunca deixou de haver decisão de consenso no conselho. Esse mito de confusão só existe nos jornais. É coisa de gente que não tem o que fazer", afirma Cunha.

Neves foi o presidente que ocupou o posto pelo menor período nos 78 anos de história de uma companhia que durante suas primeiras cinco décadas orgulhava-se de ter tido apenas três dirigentes. Ex-presidente da Shell no Brasil, Cunha permanece no conselho da Varig. Eleazar de Carvalho Filho, ex-presidente do BNDES, que já era do conselho, assumiu a vice-presidência em seu lugar.

Em nota divulgada ontem, o presidente do conselho, David Zylbersztajn, afirma que seu grupo, que assumiu em maio a administração da Varig, "a convite da FRBPar, permanece unido em torno do projeto de recuperação da companhia". Segundo Zylbersztajn, a troca de comando decorre da "necessidade de otimizar as operações e o processo de recuperação empresarial".

O presidente do conselho de curadores, Osvaldo César Curi, que ontem participou de um seminário no Rio sobre a crise da Varig, também desmentiu que haja desavenças entre seu conselho e o grupo de Zylbersztajn. Mas, quando questionado sobre o motivo da saída de Neves, a resposta do curador não pareceu tão afinada. "Foi por motivo de doença", disse.

Nos bastidores da Varig, o comentário é que a relação entre os dois conselhos está cada dia pior. Os curadores, que torciam pela saída de Neves, preferiam ver na presidência um executivo da casa, da confiança deles. No centro da disputa entre a Fundação e o conselho de administração está a discussão se o grupo Varig pode ou não ser "fatiado" - com a venda de ativos em separado - e se o fundo de pensão Aerus tem ou não de ser preservado.

Quando foram contratados, os administradores receberam carta branca para solucionar a crise, mas sob duas condições: preservar o Aerus e não fatiar a empresa. Agora, o time de Zylbersztajn e Cunha quer eliminar essas barreiras. "Estamos estudando um instrumento jurídico que permita dar mais conforto ao conselho de administração e aos investidores, mas não há nada definido", disse Curi.

Desencontros à parte, o fato é que o conselho de administração já definiu a cota que restará à Fundação Ruben Berta no processo de reestruturação. Vai oscilar entre 10% e 20%, dependendo do valor final do negócio, revelou o brigadeiro Sérgio Ferolla. Segundo ele, o novo presidente da Varig só não compareceu ao seminário de ontem no Rio porque teve de se encontrar com um investidor estrangeiro. Até ontem, disse, havia seis grupos interessados na recuperação judicial da Varig.