Título: Jefferson tem contas abertas, sessão vira guerra
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A4

O homem-bomba continua a detonar crises nervosas. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), mesmo ausente da reunião de ontem da CPI dos Correios, foi o personagem central de uma das sessões mais tumultuadas e constrangedoras da história do Congresso, em que o decoro foi esquecido e sobraram xingamentos, gritarias e conclamações à briga física entre deputados e senadores. A votação das quebras dos sigilos de Jefferson e uma carta redigida por ele, a pretexto de corrigir uma entrevista ao programa de Jô Soares na TV Globo, foram o estopim da baixaria parlamentar. Na carta, Jefferson retificou declarações dadas na entrevista, em que colocara sob suspeita integrantes da CPI de também receber o mensalão.

Segundo o ex-presidente do PTB, ele queria na verdade se referir a membros do Conselho de Ética da Câmara, como os deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Sandro Mabel (PL-GO) e Pedro Henry (PP-MT). No último parágrafo da carta, Jefferson questionou, porém, "a isenção da senadora Ideli Salvatti, do PT, membro da mesma executiva a quem acuso de fazer o pagamento do citado mensalão por meio de Delúbio Soares, com conhecimento de José Genoino, Marcelo Sereno e Silvio Pereira, além do ministro José Dirceu".

Segundo a assessoria de Jefferson, ao fazer a referência a Ideli, houve no texto uma troca do pronome relativo "que" pelo "quem". As acusações sobre o mensalão não eram dirigidas à senadora, mas à executiva do PT. Lida durante a sessão pelo presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a carta provocou a ira de Ideli. Indignada também com Delcídio, rival nas disputas internas do PT, a senadora subiu nas tamancas. Deixou a sua cadeira e, dedo em riste, dirigiu-se à mesa da CPI para exigir uma resposta da comissão e uma acareação entre ela e Jefferson. "Santa Catarina é a terra de Anita Garibaldi (heroína da Revolução Farroupilha). Se ainda não apareceu um homem para enfrentá-lo, agora apareceu uma mulher", desafiou.

A revolta da senadora incendiou, de uma vez, os ânimos de uma sessão que já vinha quente. Histérico, o senador Sibá Machado (PT-AC) tentou, aos berros, comandar uma retirada da bancada do PT da sessão da CPI em protesto contra a carta de Jefferson, mas não foi seguido nem pela própria vítima das novas investidas do acusador-geral da República.

"Não, eu quero é que a CPI tome a decisão de me proteger", recusou Ideli. Por sugestão do deputado Maurício Rands (PT-PE), prevaleceu a decisão de envio da carta ao Conselho de Ética para compor o dossiê contra o ex-presidente do PTB. Questionado por Ideli, Delcídio deu o troco ao falar antes da abertura do depoimento da secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio. Culpou a bancada do PT pelo tumulto da sessão por causa da decisão "extemporânea" de quebrar os sigilos de Jefferson, proposta em requerimento por Ideli.

"Eu lutei contra esse requerimento porque ele foi apresentado fora do tempo, mas perdi. Seguindo um acordo da comissão, tive de colocá-lo em votação", disse. A quebra do sigilo de Jefferson fora tomada em represália às declarações do deputado a Jô Soares. Para apoiar o requerimento de Ideli, a oposição passou a exigir a quebra dos sigilos do deputado José Dirceu (SP), do presidente do PT, José Genoino, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral Silvio Pereira.

A ação dos oposicionistas provocou revide do deputado Jorge Bittar (PT-RJ). A sessão ainda teve troca de ataques de colegas de partidos, entre deputados do PFL. "Isso virou um circo", definiu deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).