Título: Genoino, Dirceu e ex-secretários do PT abrem sigilo à CPI dos Correios
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A4

A forte pressão sobre a cúpula petista, que nesta semana derrubou dois dirigentes do partido, levou ontem o presidente do PT, José Genoino, o secretário-geral licenciado, Silvio Pereira, o tesoureiro licenciado, Delúbio Soares, e o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) a autorizarem a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico pela CPI dos Correios. A permissão foi enviada por fax à CPI, a pedido do senador Sibá Machado (PT-AC). Machado telefonou para cada um deles, ao fim de uma sessão tumultuada, sugerido que se adiantassem à CPI. "Como a temperatura subia a cada minuto, eu disse: mostrem que vocês não têm medo de nada e autorizem a quebra do sigilo", contou. "Eles foram tomados de surpresas, não sabiam que a CPI discutia isso, mas toparam na hora."

Genoino e Dirceu afirmam no fax que abrem as contas "como forma de cooperar com os trabalhos da comissão". Nenhum deles se refere ao período em que abrem o sigilo.

Em resposta a parlamentares da oposição, o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse acreditar que as autorizações - que terão de ser formalizadas em documentos autenticados - devem se estender aos dois anos e seis meses do governo Lula.

Delúbio, que no PT respondia pelo cargo de secretário de Finanças, foi convocado a depor na CPI. Seu comparecimento foi aprovado por unanimidade, ao contrário do que ocorreu com os demais membros da cúpula petista. Delúbio deverá comparecer ainda este mês, provavelmente antes do dia 20.

BATE-BOCA

A quebra do sigilo dos membros da cúpula petista suspeitos de envolvimento no esquema do mensalão não estava prevista. Foi discutida após a iniciativa de parlamentares do partido de quebrar o sigilo bancário, fiscal e telefônico do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) - autor das denúncias sobre a suposta mesada paga pelo governo a parlamentares do PP e PL -, depois de encerrada a sessão de votação do requerimento.

"Foi uma decisão extemporânea, contra a minha vontade. Não era esse o momento", alegou Delcídio. O lance atiçou a oposição: "Qual é a lógica em investigar o denunciante e deixar de fora os acusados?", questionou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), engrossou o coro: "É manco um requerimento só contra o Jefferson, tem de ser feito o mesmo com os petistas."

A discussão virou bate-boca e, aos berros, faltou pouco para que deputados do governo e da oposição resolvessem o impasse no braço. "Da próxima vez, não vou ganhar no grito, vou ganhar de outra forma", advertiu a senadora Heloisa Helena (PSOL-AL).

Guerra acusou o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) de "amarelar" diante de Jefferson. Bittar, por sua vez, alfinetou os pefelistas, alegando que eles não tinham o direito de quebrar o sigilo dos petistas porque "conviveram bem com a ditadura".

Em meio à gritaria, também se debateu a conveniência de quebrar o sigilo de todos os 513 deputados e 81 senadores. Ao final, ficou acertado que apenas as contas dos titulares e suplentes da CPI estarão abertas, podendo ser investigadas se a investigação assim o exigir.

A comissão também aprovou a quebra de sigilo de dez empresas ligadas ao publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. Sua mulher, Renilda Maria Santiago de Souza, e suas funcionárias Geisa Dias dos Santos e Simone Vasconcelos foram convocadas para depor. A data será marcada na semana que vem.