Título: Movimentação de Valério vai a R$ 1,7 bi
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A7

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e sua mulher, Renilda Maria Santiago, movimentaram R$ 46 milhões em suas contas bancárias pessoais entre 2000 e 2005. A cifra movimentada pelas empresas do publicitário mineiro, suspeito de ser o operador do mensalão, é bem maior: R$ 1,7 bilhão. Esses dados constam dos relatórios de movimentação financeira enviados pela Receita Federal à CPI dos Correios. Os valores movimentados pelo casal e pelas empresas são conhecidos pela Receita pela cobrança da CPMF. No caso de Valério e Renilda, os dados se referem às contas em sete instituições: Banco Rural, Banco do Brasil, BankBoston, Citibank, Bradesco, BCN e Alfa.

No caso das agências de publicidade DNA e SMPB, o levantamento da Receita indica que a movimentação é superior ao que o próprio Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já indicava: R$ 1,2 bilhão desde 1999. A diferença se deve principalmente ao fato de que o Coaf só registra créditos superiores a R$ 100 mil, enquanto o filtro da CPMF pega toda a movimentação bancária.

No depoimento de anteontem à CPI, Valério tentou justificar R$ 836 milhões que entraram na DNA nos últimos seis anos em função dos contratos de publicidade com o governo. Só com o Banco do Brasil, segundo ele, houve faturamento de R$ 328 milhões desde 2001. Mas o relatório do Coaf indica que há pelo menos R$ 459,8 milhões cuja origem permanece desconhecida - ou seja, sem procedência registrada pelos bancos no momento do crédito.

Além dos dados de movimentação financeira, a CPI já dispõe das declarações de Imposto de Renda de Valério e suas empresas. Falta ainda chegar à comissão as informações referentes à quebra dos sigilos bancário e fiscal do publicitário e de outros investigados. "Aí nós vamos ter uma malha de informações para verificar a relação entre as empresas, os bancos e outros investigados", afirmou ontem o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MT).

Ao todo, 72 documentos já chegaram à CPI e estão mantidos em sigilo. Ontem os parlamentares que quiseram pesquisar a papelada tiveram de permanecer em sala da CPI sob a vigilância de policiais federais. Na véspera, parte de um relatório do Coaf (sem maior importância, segundo Delcídio) havia sumido do arquivo da CPI.

Depoimentos e dados recolhidos pela CPI mostram estreita relação entre Valério e o Banco Rural. Valério usava a instituição para saques milionários em dinheiro. Foram R$ 20,9 milhões em apenas dois anos.

Vários saques foram feitos diretamente na agência do Rural em Brasília, o que não aparece nos relatórios do Coaf. Por isso, os parlamentares pediram mais informações ao banco sobre esses saques. O escritório no Brasília Shopping seria um dos pontos de pagamento do mensalão, segundo denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Os dados da portaria do prédio em que fica a agência bancária, fornecidos pela administração do shopping, mostram que alguns assessores parlamentares, além do deputado José Borba, ex-líder do PMDB, do motorista de Jefferson e do próprio Valério, estiveram nos últimos dois anos no escritório do Rural na capital.