Título: Borba vai dizer na CPI que encontrou Valério no Planalto
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A8

"Eu vi o Marcus Valério no Palácio do Planalto. Estava indo à Casa Civil e cruzei com ele lá". É o que dirá o ex-líder do PMDB na Câmara José Borba (PR), se for convidado a depor na CPI dos Correios. Borba está afastado da liderança desde terça-feira, quando assinou um nota afirmando que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o mensalão, discutia nomeações para cargos federais. Menos de 24 horas depois da divulgação da nota, Marcos Valério negou que tivesse influência sobre as nomeações do governo. Mas Borba ainda sustenta as afirmações que constam do documento no qual atribuiu seu relacionamento com o publicitário "ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao governo".

Borba conheceu Marcos Valério por acaso, em meio a uma roda de parlamentares de vários partidos, inclusive petistas, que embarcavam no aeroporto de Brasília de volta a seus Estados em uma sexta-feira. Nem se recorda de quem os apresentou, mas lembra-se bem que foi há quase dois anos. Recém recuperado de um acidente vascular cerebral que o deixara fora de combate por mais de um mês, ele foi muito festejado por estar voltando à ativa sem seqüelas.

Mas Borba só começou a prestar atenção em Valério depois que assumiu a liderança, no início de 2004. Foi quando, por força do cargo, teve de mapear o poder e, como ele diz, identificar quem era forte e quem tinha prestígio junto ao grupo que decidia no governo quando o assunto era nomeação.

A desenvoltura com que Valério transitava por gabinetes do Congresso e do Planalto não lhe deixou dúvidas: "Era evidente que ele (Valério) tinha prestígio. Eu o reconhecia como um homem de influência." Isso ficou claro quando Borba "mapeou o poder" em busca de interlocutores para negociar os pleitos dos peemedebistas em Brasília e nos Estados. O círculo do poder freqüentado pelo líder e pelo publicitário coincidia quando se tratava de nomeações.

Borba cita Silvio Pereira, Marcelo Sereno, Sandra Cabral, os três subordinados do ex-ministro José Dirceu, além do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do presidente do PT José Genoino, e de petistas ilustres do Congresso, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha.

Depois de "cruzar" com Valério "algumas vezes" (menos de dez, durante o período da liderança), seja no Planalto ou no Congresso, Borba chegou a receber uma visita dele na liderança, em meados do ano passado. "Foi política de boa vizinhança, uma visita de cortesia ", conta.

"Não participei de nenhuma reunião formal com petistas e o Marcos Valério, mas, ao longo desse meu período na liderança, o vi atuando em questões políticas e partidárias e falamos de política e de nomeações." A maioria dos pedidos do PMDB era para acomodar afilhados políticos em postos federais nos Estados, como delegacias de educação e agricultura.