Título: Sob pressão de denúncias, Gushiken também vai sair
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A12

Alvo de denúncias envolvendo fundos de pensão, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, pediu demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira. Alegou que as acusações contra ele e sua família são infundadas, mas disse que, ficando no ministério, prejudicaria o presidente. Menos de um mês depois da queda do chefe da Casa Civil, José Dirceu, a saída de Gushiken abre caminho para a "despetização" do governo Lula na mais difícil crise política que já enfrentou. O presidente ficou muito contrariado com as notícias de que a empresa Globalprev - da qual Gushiken foi sócio até dezembro de 2002 - cresceu 600% em 2003, no primeiro ano de seu mandato. O faturamento da Globalprev, cuja sede funciona em uma casa que foi de Gushiken, saltou de R$ 151 mil em 2002 para R$ 1,5 milhão em 2003.

Na manhã de quarta-feira, em conversa com Lula na Granja do Torto, Gushiken entregou o cargo. Sua estratégia de comunicação, até agora, foi norteada pela convicção de que o Planalto precisa ser blindado. Em outras palavras: todos os citados em denúncias, culpados ou não, devem pedir afastamento.

"Saio para preservar o presidente", disse Gushiken, em conversa com assessores, na manhã de ontem, quando comunicou sua decisão.

Lula retorna hoje de sua viagem à Escócia - onde participou do G-8, grupo formado pelos países mais ricos do mundo - e terá uma conversa com Gushiken, seu amigo há 30 anos. Em telefonema a assessores, ontem, Lula disse que tentará convencer o ministro a ficar. Gushiken, no entanto, afirmou que sua decisão é definitiva.

Um dos fundadores do PT, o chefe da Secom conheceu Lula na década de 70, antes de presidir o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Até hoje é chamado carinhosamente por Lula de "Chininha".

A despedida de Gushiken também marca a implosão do núcleo de coordenação política, outrora chamado de "núcleo duro", que foi sem nunca ter sido estratégico. Dirceu fazia parte do grupo, que se reunia semanalmente para avaliar a "conjuntura". O ex-ministro e Gushiken sempre travaram uma queda-de-braço em torno dos rumos do governo. No embate, Gushiken alinhava-se sempre ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Do grupo original de conselheiros petistas de Lula sobraram apenas Palocci e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). O ex-deputado Jaques Wagner, do PT, entrou na segunda fase do núcleo, quando ele já estava esvaziado, no ano passado. Wagner será agora o assessor político do governo. O atual titular da Coordenação Política, Aldo Rebelo, do PC do B, irá para outra pasta. Lula estuda a possibilidade de remanejá-lo para Trabalho ou Previdência.