Título: A capital britânica pergunta: como será o dia seguinte?
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Internacional, p. H1

O avião da Varig pousou em Londres às 14 horas, depois de um vôo sem turbulências. Quando já caminhávamos pelo Aeroporto de Heathrow, rumo à alfândega, um policial pediu abruptamente os passaportes de algumas pessoas, no meio do corredor. No controle imigratório, a moça que me atendeu parecia tensa, e pela primeira vez vi guardas armados circulando pelo local, cena incomum e até mesmo chocante. Já na área de desembarque, procurei pelo motorista, que não havia chegado. Telefonei para ele. Só então soube que quatro bombas haviam explodido de manhã. O motorista confirmava: "Foi um atentado terrorista." Ele estava retido no trânsito, já bem próximo do terminal em que eu me encontrava e falava sobre centenas de feridos e dezenas de mortos. Finalmente, Londres entrava para a lista fatídica dos atentados que começaram em Nova York e atingiram também Madri. Num pub do aeroporto, encontrei a primeira TV que transmitia incessantemente as imagens, os depoimentos e as primeiras análises sobre o que estava acontecendo, já que o piloto se limitara a informar que o tempo na cidade era bom, 18º Celsius. Na tela apareciam, assustadores, lugares muito conhecidos dos moradores e turistas que circulam aos milhões pela cidade. Liverpool Street, onde morreram pelo menos 7 pessoas, é uma das mais movimentadas estações de metrô e trens.

Às 8h56 explodiu a segunda bomba, entre as estações de King s Cross e Russell Square, próximas de um bairro universitário e das maiores atrações de Londres, entre as quais o Museu Britânico. O Royal National Hotel, um prédio-mamute, transformou-se em câmara mortuária. Outra explosão mais tarde, no trem da Circle Line (a linha amarela) que se dirigia de Edgware Road para a estação de Paddington. A área abriga parcela considerável da comunidade árabe, com seus comerciantes e vendedores. A última explosão ocorreu no ônibus da linha 30, que se fora desviado da sua rota original e atravessava a área próxima a Bloomsbury e Russell Square. O motorista perguntava a um policial por quais ruas deveria passar, quando houve a explosão.

Esses foram os fatos, narrados em todos os canais. Mais tarde, no ritmo frenético das descrições e imagens, eu voltava para casa de carro e descobria uma Londres sombria e vazia. Ao longo do dia, as pessoas evitaram aproximar-se do centro, com medo de novas bombas. As que já se encontravam ali, foram encontrando meios de retornar para casa. Rapidamente, a cidade se esvaziou. A área de isolamento da Embaixada dos EUA duplicou, com guardas armados, barreiras de concreto, arame farpado.

Havia, portanto, um contraste entre o nervosismo da televisão e a calma compreensão da realidade. Nunca mais falaríamos daquelas estações e ruas da mesma maneira. Londres cumpria o seu destino moderno de megacidade, logo após saber que abrigará os Jogos Olímpicos de 2012. Mas agora apenas se perguntava, ansiosamente, sobre como seria o dia seguinte.