Título: Al-Qaeda ataca Londres
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Internacional, p. H1

A polícia britânica sabia que um dia ia acontecer. Os políticos, volta e meia, faziam comentários. Bombeiros, médicos e enfermeiros ensaiaram exaustivamente os procedimentos de socorro. O fato de todos terem consciência e estarem preparados não evitou o choque causado pelo ataque terrorista ontem, em Londres, o pior da história da cidade. Em apenas 56 minutos, quatro explosões destroçaram corpos em três trens do metrô e em um ônibus de transporte público em pleno horário do rush, quando os londrinos se dirigiam ao trabalho pela manhã. O número oficial de mortos até ontem à noite era de 37, embora extra-oficialmente se falasse em até 52. Cerca de 700 pessoas ficaram feridas, 50 delas em estado grave.

Foram quatro bombas. A primeira estourou às 8h51 em um trem do metrô a 100 metros da estação de Liverpool Street, no coração do centro financeiro de Londres. Cinco minutos depois, outra explosão num trem que estava entre as estações de Russell Square e de King's Cross, a mais movimentada de toda a Grã-Bretanha.

Às 9h17, uma bomba rompeu um vagão e afetou outros dois na estação de Edgware Road, localizada no bairro popular entre a comunidade muçulmana endinheirada. Trinta minutos mais tarde, uma bomba destruiu um ônibus na Tavistock Square, a poucos metros de uma estátua de Gandhi e a algumas quadras do Museu Britânico.

Na hora dos atentados, Tony Blair estava na Escócia, como anfitrião do encontro anual do G-8, o grupo dos países mais ricos e a Rússia, do qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa como convidado. "Eles (os terroristas) estão tentando usar a carnificina de pessoas inocentes para nos dobrar, mas não conseguirão", afirmou Blair. Ele deixou a Escócia ainda de manhã para ir acompanhar os trabalhos de emergência em Londres, mas voltou à reunião de cúpula à noite. Para Blair, os ataques foram planejados para coincidir com a reunião do G-8.

Num comunicado divulgado na internet, uma célula até então desconhecida da rede terrorista do saudita Osama bin Laden, denominada Organização Secreta da Jihad da Al-Qaeda na Europa, assumiu a responsabilidade pelos ataques e ameaçou outros países europeus: "Advertimos os governos da Dinamarca e Itália, e todos os cruzados que terão a mesma sorte da Grã-Bretanha se não retirarem suas tropas do Iraque e do Afeganistão."

A autenticidade da mensagem não foi confirmada, mas o chanceler britânico, Jack Straw, confirmou que os atentados "têm a marca da Al-Qaeda". Os ataques se assemelham aos ocorridos em Madri em março de 2004, que também afetaram o sistema de transporte com explosões sucessivas.

Londres foi da alegria à tragédia em menos de 24 horas. O terror se abateu sobre a capital britânica um dia depois da escolha da cidade como sede da Olimpíada de 2012. Os ataques puseram em alerta tanto a Europa como os EUA, onde as medidas de segurança foram reforçadas, principalmente nos sistemas de transporte.

Até o final da noite de ontem, não havia informação sobre se há brasileiros entre os mortos. O analista de dados José Di Michele, que estava num dos trens atingidos, escapou quase ileso, apenas com ferimentos na mão. De acordo com estimativas do Itamaraty, há 100 mil brasileiros vivendo na Grã-Bretanha, a maioria em Londres. É a terceira colônia brasileira no exterior, atrás somente dos EUA e do Paraguai. Castigada desde os anos 70 por ataques do grupo irlandês IRA, Londres conheceu ontem uma nova face do terror.