Título: Denúncia de corrupção abala a Volks alemã
Autor: Mark Landler
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Economia & Negócios, p. B13

A Volkswagen está mergulhada num crescente escândalo de pagamento de propinas e corrupção que ameaça um dos mais importantes executivos da empresa e poderá prejudicar o chanceler Gerhard Schr¿der no momento em que se prepara para uma árdua campanha visando a permanecer no cargo. Promotores alemães estão investigando as acusações de que dois ex-executivos da VW canalizaram uma quantia não revelada de recursos da empresa para uma teia de empresas "frias". Além disso, a montadora enfrenta acusações de que seus gerentes subornaram representantes dos funcionários para apoiar suas políticas. Os dois executivos trabalharam para o chefe do Departamento de Pessoal da Volkswagen, Peter Hartz, um respeitado executivo com trânsito livre nos cenários político e comercial alemães. Hartz enfrentou uma escalada de perguntas esta semana sobre se participou ou conhecia as condutas ilegais do seu departamento.

Potencialmente, o escândalo tem conseqüências de longo alcance porque Hartz é confidente de Schr¿der, e porque se tornou um nome conhecido em Frankfurt como o arquiteto do polêmico plano do governo para reformular o mercado de trabalho da Alemanha. Hartz negou as transgressões, mas crescem os rumores de que ele será obrigado a renunciar ao seu cargo na empresa.

Além das pessoas que correm perigo e das somas de dinheiro envolvidas, os analistas dizem que o escândalo expôs profundas falhas na direção corporativa da Volkswagen. A montadora, uma das maiores empregadoras da Alemanha, confere aos sindicatos e a outros representantes dos trabalhadores um papel influente na condução da empresa.

Este alto grau de compartilhamento do poder, incomum mesmo para os padrões alemães favoráveis à mão-de-obra, abre as portas para uma série de irregularidades, dizem alguns analistas políticos e do setor. E também deixa a Volkswagen em desvantagem na competição com montadoras que adotam uma orientação mais comercial.

"É uma situação que não vi em nenhum outro lugar na indústria alemã", disse Ferdinand Dudenhoeffer, do Centro de Pesquisa Automotiva de Gelsenkirchen. "Este escândalo demonstra o perigo de se organizar dessa maneira. Eles precisam de uma mudança fundamental."